Desfaça-se o equívoco: apesar de tradicionalmente os devotos aproveitarem o Dia de Todos os Santos para visitarem e honrarem os seus mortos, é a 2 de novembro que se assinala o Dia dos Fieis Defuntos.
Corpo do artigo
Lavam-se os túmulos, esfregam-se os mármores com lixívia, enfeitam-se com flores (umas de plásticos, outras naturais) e acendem-se velas pelas almas. As que têm cobertura de plástico acabam por se derreter e deixar uma marca. São tatuagens de todos os que ali rezaram. O dia é triste e há duas palavras que se replicam como onda sísmica aparecem sempre de mão dada : Eterna Saudade.
Nalguns cemitérios de populações migrantes rapidamente se vê o país de destino, as dedicatórias escritas em múltiplas línguas. Os que morreram há pouco tempo causam grande comoção, os que morreram há muito tempo uma dor mais contida. A fórmula portuguesa de celebrar os antepassados obedece a este ritual.
E2Q1gGCKILw
Pedro Almodóvar registou magistralmente estes rituais no filme "Volver", de 2006.
Em 2017, o filme para crianças da Pixar, "Coco", abriu um novo capitulo sobre o famoso Dia de los Muertos mexicano. A forma celebratória da vida que é contada nesta narrativa é uma lição para crianças e para adultos. "Coco" conquistou dois Oscars, para Melhor Filme de Animação e Melhor Canção Original ("Remember me", ou "Lembra-te de mim" na versão portuguesa). Se não viu este filme, hoje é a oportunidade perfeita para o fazer:
2JzyYuOxjmQ
Talvez devêssemos honrar os nossos mortos celebrando as suas vidas, contando as suas histórias e dando-lhes hipótese de reviverem ao repetirmos os seus nomes. Entre outras perspetivas, o filme é também um exemplo sobre o cuidado com os mais velhos.
Noutro filme, "O tempo dos ciganos" de Emir Kusturica, os rituais de morte aparecem também de uma forma muito peculiar. Apesar da dor há música e há festa. É outra obra imperdível para o dia de hoje:
EZf00ad3G6o
Mas nem só de filmes se faz este relato. O livro de José Luís Peixoto, "Morreste-me", da editora Quetzal, tornou-se objeto de culto e um dos primeiros êxitos do escritor português. Neste livro explica o processo de luto após a morte do pai.
O clássico de Gabriel García Marquez, "Crónica de uma morte anunciada", é também uma boa forma de encararmos este dia. Tal como neste livro, todos sabemos que vamos morrer, mas ainda assim que esta premissa não nos tire a vontade de parar de ler.