Encenador fala com o JN sobre a criação de "Please, please, please". Peça tem hoje, no Porto, estreia nacional.
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O cortejar foi longo, muito longo, até à experiência que o público poderá vivenciar hoje e amanhã, com "Please, please, please", no palco do Teatro Carlos Alberto, no Porto, no âmbito da quinta edição do Festival Dias da Dança (DDD).
Em 2009, Tiago Rodrigues, agora diretor do Teatro Nacional D. Maria II, assistiu, na Culturgest, em Lisboa, ao espetáculo "Gustavia", que unia as "gémeas falsas" Matilde Monnier, portento da dança contemporânea francesa, e La Ribot, coreógrafa espanhola radicada na Suíça, nome maior das artes performativas e visuais europeias. "Um espetáculo muito marcante para mim", diz, ao JN, Tiago Rodrigues.
Curiosas com o encenador português, as duas artistas assistiram depois a vários espetáculos seus em França. E com o pretexto de voltarem a estar juntas convidam-no para integrar um trio criativo. "Aceitei com grande entusiasmo. Era só preciso acertar as datas e os meios de produção. Admiro-as muitíssimo pela sua política de risco e experimentação. Ainda por cima, porque aquilo não acontecia no meu habitat", diz. O habitat natural dele é o teatro, o desafio era para uma incursão na dança.
Uma faísca criativa
O momento crucial para o nascimento do espetáculo decorre num encontro na Cervejaria Trindade, na Almirante Reis, em Lisboa. "A minha filha começa a falar-nos sobre a crise climática, "extinct rebellion". Começámos a ser empurrados para uma ideia de futuro", lembra. Os artistas ficaram impressionados com aquela desesperança. O que tem a atual geração de adultos para dizer aos que ainda não são adultos?
"Esta será a primeira geração que não vai viver melhor do que a anterior. Nós fomos educados com essa esperança de que estaremos melhor do que os anteriores". Guiado por esse momento, o trio começa a fazer pesquisas de imagens de pessoas de joelhos, num misto de súplica e protesto. "Apesar de não ser documental, o espetáculo é informado".
No início trabalhavam a escrita e a coreografia em separado, um trabalho muito intenso que lhes ocupou o verão de 2019, em Angers, em França. Essa etapa terminou em Lausanne, na Suíça, com o espetáculo modelado em três capítulos: só corpo, corpo e texto, só texto. "No início foi difícil para mim, porque elas têm uma faísca única. Mas quando superei a incapacidade de propor movimento em palco tornou-se muito livre. Adoro a discussão nos processos de dança, são muito abertas", afirma o encenador.
Depois desse processo, que passou também por Madrid, conseguiram uma maturidade em que houve uma coabitação de linguagens. Já na fase final, nos Estúdios Victor Cordon, em Lisboa, a produção ameaça: "Têm até ao fim do dia para ter um nome". Estavam a ouvir a música "Please, please, please", de James Brown. Estava encontrado o nome.