O dia em que quiseram trocar-me por 30 camelos

Há ainda o pormenor de me chamar Fátima. Um pormenor importante ou não tivesse esta história acontecido num país muçulmano. Fatma era a filha preferida do profeta Maomé. A mão de Fatma, ou Hamsá, é um talismã usado pelos muçulmanos, que acreditam que este pode afastar o mau-olhado.

Foi também com estas informações na bagagem que, há 12 anos, parti para a Tunísia na viagem de final de licenciatura. Com estas informações e com um conselho: "cuidado com os homens muçulmanos, que gostam de jovens morenas e trocam-nas por camelos".

Obviamente, não fiz caso. Julguei eu que era uma simples brincadeira. Afinal, havia tanto para vivenciar. Foi a minha primeira viagem de avião. Foi a primeira vez que viajei para fora da Europa. Estive nas ruínas de Cartago, mesmo ao lado do palácio presidencial; no coliseu romano de El-Jem, onde foram filmadas cenas do filme Gladiador; atravessei o lago salgado Chott Djerid e, pela primeira vez, tive uma ilusão de óptica; visitei o Jardim Zoológico de Tozeur, onde um dromedário bebe coca-cola pela garrafa, enfim, tantas e tantas experiências novas. A mais marcante, porém, estava reservada para um dos últimos dias. Em El-Hamma, famoso pelo seu mercado de especiarias, numa das muitas loginhas onde regateávamos tudo, um dos funcionários perguntou-me a idade. Não acreditou quando lhe respondi que tinha 22 anos. Não me dava mais do que 15, por mais que eu negasse.

E tão forte era a sua convicção que, muito sério, se virou para o único rapaz do grupo e lhe disse que lhe oferecia 20 camelos por mim. A minha reacção foi nenhuma. Pensei que tudo se tratasse de uma brincadeira habitual com os turistas, mas, quando voltei à realidade, as negociações já iam em.. 30 camelos. Obviamente, tive que me pôr termos às negociações. Ou ainda hoje estaria a viver na Tunísia.