Terceiro álbum da londrina Greentea Peng alarga influências para lá do neo-soul e traz maior profundidade à sua música.
Corpo do artigo
Estar sol não é sinónimo de verão, que o diga o sol de inverno. “Tell dem it’s sunny” (“digam-lhes que faz sol”), o mais recente álbum de Greentea Peng, pode encaixar nessa ideia.
É solar porque nos abre ao Mundo e oferece melodias muitas vezes doces. É de inverno porque esse lado solar está envolvido em letras ásperas, por vezes até duras.
No final, é como uma sessão de terapia: pode ser difícil de ouvir, pela densidade e profundidade, mas faz-nos bem.
Greentea Peng, nome artístico de Aria Wells, traz, no terceiro álbum de estúdio, uma faceta renascida, tal como anuncia, aliás, na penúltima faixa, “I am (reborn)”: “Eu não sou quem eu era ontem”, diz-nos. E essa letra parece ser realmente o resumo deste bom disco.Depois da ambiciosa estreia de 2021, com “Man made”, Greentea Peng solta-se – ou salta para lá – do mero neo-soul saído do reggae a que tem sido associada.
“Tell dem it’s sunny” mostra que a londrina consegue ir a lugares muito variados – estando cada vez mais patente influências como o lado letrista de Lauryn Hill, a sonoridade de Erykah Badu ou a voz de Amy Winehouse.
No novo disco, Wells entrega mais hip-hop, mais beats underground, mais R&B psicadélico. Tudo isto enquanto simplifica as letras, mas sem perder conteúdo. A mensagem é mais “Raw” (nome de uma das faixas do álbum e que quer dizer “cru”), o que dá uma nova – e melhor – perspetiva sobre as capacidades e o futuro da artista de 30 anos.
Não se deixem enganar pelo título do álbum. O “sunny” (“ensolarado”) torna-se muitas vezes pesado e sombrio. Até mesmo “Glory”, onde a artista canta o título do álbum sobre um groove quente e suave, soa como um amargo de boca final, em que percebemos que, lá no fundo, Wells, está apenas a curar-se de momentos negros.