Festival Materiais Diversos apresenta amanhã espetáculo de Fanny Brouyaux em Minde, Alcanena.
Corpo do artigo
O festival Materiais Diversos tem esta semana o seu ponto alto com vários espetáculos, entre eles "To be schieve or a romantic attempt", no qual Fanny Brouyaux encena o desequilíbrio como linguagem. Antiga violoncelista e bailarina formada em Bruxelas, Brouyaux transporta para o corpo a disciplina do arco e da corda: cada gesto é uma nota que hesita entre o rigor e o abandono.
"Schieve", palavra bruxelense que significa torto, estranho, serve-lhe de bússola estética, um modo de ser e de sentir fora do compasso, onde o erro se transforma em matéria poética. No palco, o corpo oscila entre a contenção e o desvario. As mãos procuram o ar como se tocassem um instrumento invisível, o peito vibra com o eco de Paganini, e a respiração torna-se partitura. Há uma urgência em romper o ideal romântico, de rasgar o verniz da perfeição para encontrar, no tropeço, um lugar de verdade. Brouyaux dança o colapso, a ternura, a vertigem, como se o romantismo fosse um corpo que ainda tenta levantar-se depois da queda.
A luz acompanha essa metamorfose: ora fria e distante, ora quente e confessional. Tudo pulsa em torno da fragilidade como uma tentativa, sempre inacabada, de permanecer de pé. "To be schieve or a romantic attempt" é, afinal, um espelho que nos devolve a beleza imperfeita de sermos humanos. O romantismo, aqui, é matéria viva - uma herança que o corpo herda, questiona e transforma.
Fanny Brouyaux propõe uma dança que é também pensamento: o desejo de ser eminente e a consciência da queda. E é nesse espaço entre o sublime e o chão que a sua criação respira. No fim, o público fica suspenso - não há catarse, apenas a vibração de algo que continua a mover-se, invisível. Um corpo que ousa ser torto, vulnerável, inacabado.
"To be schieve or a romantic attempt"
Centro de Artes - Minde
Sábado, 18 horas

