José Gomes Mendes estreia-se na ficção literária com "A célula de Sheffield", um "thriller" que vai ser apresentado esta sexta-feira no Porto pelo jornalista Carlos Daniel.
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O gosto de "contar histórias verdadeiras através de histórias inventadas" fez despertar em José Gomes Mendes a vontade de escrever um romance. O resultado foi "A célula de Sheffield", um "thriller" polvilhado de intriga e ação que vai ser apresentado esta sexta, às 18.30 horas, na Fnac de Santa Catarina, no Porto, pelo jornalista Carlos Daniel.
Observador atento da(s) realidades(s) contemporâneas, há muito que o professor catedrático planeava a escrita de uma obra que abordasse a temática do terrorismo, vista como "uma resposta às tensões instaladas", resultantes, em grande parte, da incapacidade crescente de nos colocarmos na pele dos outros.
Para isso, criou uma narrativa que decorre entre os anos de 2011 e 2015, desde os primórdios da chamada "Primavera Árabe" à rápida dissolução das esperanças, acalentadas por uma fatia significativa desses povos.
No centro da história está Karim, um entre tantos jovens que "deambulam pelas ruas do Cairo", mas cujo destino ganha contornos inesperados graças ao seu inegável talento futebolístico. Ao mesmo tempo, quando se cruza com um ancião chamado Islam, vê-se introduzido na complexa relação entre política e religião. A rápida ascensão da sua carreira desportiva - é transferido para Inglaterra - corresponde também à entrada em cena da Irmanda Muçulmana, que envolve o jovem numa rede de manipulações e mentiras da qual se torna quase impossível escapar.
Muito por força da pandemia, da carestia de vida ou da guerra na Ucrânia, a ameaça terrorista perdeu terreno na esfera mediática nos últimos anos. Apesar dessa discrição informativa, os problemas não desapareceram como que por artes mágicas, sublinha o antigo secretário de Estado dos Transportes: "O extremismo islâmico continua a ser uma ameaça, mas não se confunda isso com os povos de religião muçulmana, que são como os outros". O autor aponta, a título de exemplo, o Afeganistão. "O que se está a passar lá atualmente é muito preocupante. Os problemas não desapareceram porque os jornais e as televisões viraram as suas atenções para outro lado. Tem havido menos atentados, porque as sociedades estão muito atentas e há mais controlo".
"Cativar o leitor"
A capacidade de transformar em personagens e situações temas que há muito lhe interessam foi um dos vários aliciantes encontrados por Gomes Mendes ao longo do processo de escrita da sua obra de estreia na ficção. "Escrever um romance é muito diferente de escrever um ensaio", reconhece. O seu primeiro ensaio num registo mais livre aconteceu há três anos, quando foi convidado pelo "Jornal de Notícias" a escrever um relato diário da sua volta a Portugal em bicicleta. O "feedback" foi tão intenso - "recebi centenas de mensagens", diz - que a ideia de abraçar um projeto literário começou a ganhar forma até se impor de forma arrebatadora.
A longa experiência como cronista veio reforçar a sua vontade de escrever um livro que agarrasse o leitor logo desde as primeiras páginas. "É muito importante cativarmos o leitor e darmos ritmo à narrativa", diz, confessando que um dos livros fundamentais para abraçar este desafio foi o livro "Escrever", de Stephen King, em que o popular autor norte-americano faz uma fusão entre a arte da escrita e a sua própria vida.
"Aprendi, através desse livro, a não inundar o leitor com detalhes e a saturar o leitor com informações por vezes desnecessárias", revela, equiparando a sua abordagem à de José Rodrigues dos Santos, mas de forma ainda mais sintética.