"O Faraó Negro, o Selvagem e a Princesa": à descoberta de um mestre da animação mundial
Estreia hoje em cinema “O Faraó Negro, o Selvagem e a Princesa”, a mais recente criação Michel Ocelot.
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Hoje com 80 anos, o francês Michel Ocelot é consensualmente considerado um dos grandes mestres vivos da animação mundial. É pois um privilégio ver em sala de cinema a sua obra de fundo mais recente, “O Faraó Negro, o Selvagem e a Princesa”.
Depois de várias curtas premiadas, este originário da Riviera francesa tornou-se mundialmente conhecido como o criador de “Kirikou e a Feiticeira”, inspirado numa lenda africana de que decerto teve conhecimento nos muitos anos que passou na Guiné-Conacri, então colónia francesa.
Com um corpo de obra que inclui cerca de uma dezena de longas-metragens, entre as quais novas aventuras de Kirikou, a importância e reconhecimento do seu trabalho pode medir-se também pelo convite de Bjork para que Michel Ocelot dirigisse um dos mais espantosos vídeos musicais da islandesa, “Earth Intruders”, onde os temas africanos, a inspiração na técnica de recortes da pioneira Lotte Reiniger, o universo visual e a modernidade do trabalho do francês ficaram bem patentes.
Uma das grandes virtudes de “O Faraó Negro, o Selvagem e a Princesa” é a de nos proporcionar três histórias distintas pelo “preço” de uma. A uma plateia que poderíamos ser nós, deste lado, uma personagem é convidada a contar-nos histórias, partindo do princípio de que quem conta apenas uma é porque não tem imaginação. E se há algo que não falte a Ocelot é precisamente imaginação.
Assim, começamos no Antigo Egito, passamos pela Idade Média francesa e terminamos nos palácios otomanos do século XVIII, em histórias de amores proibidos, de tiranos e oprimidos, estranhas divindades, princesas e pasteleiros em alegre cumplicidade…
O que Ocelot nos propõe é um festival de cor, associada aos motivos que os três períodos em causa o inspiraram, uma fluência narrativa só possível em quem domina a arte de contar histórias, uma técnica de animação simples, mais perto dos primitivos que das escolas digitais mais recentes, mas não menos espetacular. Uma obra que, pelas suas características lúdicas e pelos seus temas se destina a todos os públicos. Seria uma pena passarem ao lado…