Exposição imersiva inédita "Living van Gogh" recebeu mais de dez mil visitantes no primeiro mês na Alfândega do Porto. Dispositivo combina ambientes físicos e digitais de forma inovadora.
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"Amarelo: terra; lilás: sul; azul: corvo; vermelho: Arles" - estes são alguns dos códigos de cores descodificados em "Living van Gogh", exposição imersiva patente na Immersivus Gallery Porto, nas Furnas da Alfândega que recebeu no primeiro mês, mais de 10 mil visitantes.
O número foi revelado ao JN pelo produtor executivo Edoardo Canessa e demonstra o acerto da aposta que já trouxe ao Porto obras de Frida Kahlo ou Salvador Dali.
A mostra da autoria do ateliê criativo O Cubo não é um êxito apenas em Portugal, a mostra dedicada ao artista holandês já passou por 20 cidades nos Estados Unidos e Canadá contabilizando cinco milhões de visitantes.
A exposição em que é possível andar por dentro dos quadros do mestre holandês pós-impressionista (1853-1890) está dividida em duas partes: a primeira é uma sala imersiva de 1000 m2, onde o público pode caminhar livremente pelo interior de obras como "Os girassóis" ou "O quarto em Arles".
O dispositivo é impressionante: telas tridimensionais a 360 graus onde são projetados 90 milhões de píxeis de imagem e 60 mil fotogramas de vídeo foram criados pelo artista visual italiano Massimiliano Siccardi. O trabalho teve a colaboração no guião de Vittorio Guidotti e Luca Longobardi, que também compõe a banda sonora, por vezes com escolhas não tão óbvias, como a apropriação de "Non, je ne regrette rien", celebrizada por Edith Piaf, numa alusão à vida de Van Gogh em Paris.
Vincent primeiro
Após esse primeiro embate, a segunda parte da exposição é "mais dedicada a Vincent do que a van Gogh", refere Canessa, e é também mais participativa. Para servir o intento, há seis criações interativas em que o público vai entrando na tempestuosa mente do artista que morreu aos 37 anos, deixando um profícuo acervo com mais de duas mil obras.
"Sinfonia dos Girassóis" é composta de 30 esculturas luminosas gigantes e efeitos de luz, onde o público se senta em fardos de palha para tentar absorver a simbologia destas flores na sua obra.
Nesta parte da mostra, o público assiste a um ator caracterizado como van Gogh a declamar o poema do português Al Berto "Última carta de van Gogh a Théo", assinalando a sua finitude, até hoje envolta num enigma.
A partir daqui e numa espécie de biografia ficcionada post-mortem há um reencontro com van Gogh, feliz como fantasma nos campos de girassóis.
"A exposição é uma celebração do legado de Vincent van Gogh e um desafio à descoberta da arte em plena era digital", diz Edoardo Canessa. "Acreditamos que através destas recriações artísticas multimédia, que combinam ambientes físicos e digitais de forma inovadora, muito pensada e intencional, é possível alcançar novas camadas de profundidade e conexão emocional com um dos maiores mestres da pintura. E ainda promover o gosto e a curiosidade pela sua obra".
Numa outra instalação estão montados três cavaletes. Ali, através do toque do pincel na tela, ativam-se até 150 obras do artista - e é das mais procuradas pelos visitantes.
Vários truques
Recriando o mito de que van Gogh teria um chapéu com velas para poder pintar de noite, os visitantes acedem ao interior de "O quarto de Arles", podem vestir o casaco e o caricato chapéu e sentar-se a pintar como o mestre.
Outro dos efeitos mais procurados é um golpe de "trompe-l"oeil": se o visitante fixar o olhar num ponto por 20 segundos, pode ver como se anima o célebre quadro "A noite estrelada". Recorrendo à tecnologia "deep fake" dentro de uma cabina "photomaton", pode ainda gravar uma mensagem como se fossem van Gogh.
A exposição-espetáculo tem sessões diárias das 14 às 18.30 horas, de meia em meia hora. Os bilhetes custam entre 10 e 14 euros.