Estreia esta quinta-feira nos cinemas o documentário sobre o ator e encenador, “Verdade ou consequência”, realizado por Sofia Marques.
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Luís Miguel Cintra é uma figura única na história do teatro português. Fundador e alma da Cornucópia, uma das mais importantes companhias de palco portuguesas, tem estado ligado a centenas e centenas de espetáculos, como ator e encenador, mas é um dos raros casos que consegue conciliar a mesma qualidade de trajeto no cinema.
A figura de Luís Miguel Cintra é indissociável da obra de Manoel de Oliveira, para quem fez duas dezenas de filmes, desde “O sapato de cetim” até à morte do mestre portuense em 2015, aos 106 anos. Mas, de igual modo, o seu trabalho é indissociável do de outros grandes nomes como João César Monteiro e Paulo Rocha, com quem começara a filmar ainda no início da década de 1970 e que também nunca mais prescindiram dos seus serviços.
Se lhes juntarmos Solveg Nordlund, Jorge Silva Melo, José Álvaro Morais, Joaquim Pinto, Pedro Costa, João Botelho ou Teresa Villaverde, entre outros, percebemos bem o lugar ímpar deste homem na vida cultural portuguesa das últimas décadas.
Por isso, era fascinante, mas ao mesmo tempo difícil, fazer um documentário que estivesse à sua altura. Sofia Marques, beneficiando da cumplicidade com Luís Miguel Cintra que advém do seu próprio trabalho na Cornucópia, mostra logo ao que vem, afastando com o título “Verdade ou consequência” a ideia de uma biografia clássica.
Assim, o filme é um retrato impressionista, com o próprio ator/encenador a dar-se a esse jogo – embora nos antípodas da representação, sendo ele próprio.
Desde as visitas a Madrid, onde nasceu, com esse lindíssimo plano onde a realizadora se junta a ele na contemplação da “Guernica”, de Picasso, às memórias de tantos filmes, passando por recordações da sua vida privada e pela evocação das músicas e filmes que lhe dão mais prazer na vida.
É isso mesmo, o que descobrimos com o belo filme de Sofia Marques, um homem que ama a vida e o palco e os seus pequenos prazeres.
Luís Miguel Cintra, e nós espetadores, merecíamos um filme assim.