“O fim foi visto”, uma tragédia coral de Teresa Coutinho sobre a resistência feminina, estreia esta sexta-feira no Teatro Campo Alegre, no Porto.
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O que é uma mulher? “Um homem incompleto”, um “ser menos dotado intelectualmente”, uma fêmea é um “macho mutilado” – um ser dado à “inferioridade biológica e aos caprichos”. Mas, qual será o desejo maior deste ser inferior?
As teorias de Aristóteles e de Galeno abastecem algumas das perguntas devolvidas na tragédia coral “O fim foi visto”, nova peça de Teresa Coutinho que estreia esta sexta-feira, às 19.30 horas, repetindo a récita no sábado, no Teatro Campo Alegre, no Porto.
Esmagadas neste espartilho de propagandas assentes em supostas verdades científicas, o que restou às mulheres ao longo da História? Serem iguais a Maria, a casta, a sofrida e obediente, ou semelhantes a Eva, a pecadora. Não esquecer: Maria é sempre casta e jovem. Jesus pode ser: bebé de colo, homem adulto e até mais velho do que a mãe.
Ainda que Teresa Coutinho diga não obedecer à estrutura de uma tragédia, na sua dramaturgia opta por um coro, e vestido de negro, onde num palco à alemã se recordam factos históricos e a obra “Cassandra”, de Christa Wolf, fazendo indistintamente analepses e prolepses.
Visualmente, o espetáculo tem grande cuidado coreográfico, com o seu auge no momento da cantiga “O pastor”, de Pedro Ayres Magalhães. E mesmo que tenha momentos de alívio, a peça é extremamente desconfortável – não pela violência das cenas, mas pelas sugestões feitas por um elenco de 13 mulheres, onde pontuam Cláudia Semedo, Maria Duarte e Sara Ribeiro.
O que mudou desde o tempo da regra inglesa do diâmetro do polegar, em que uma mulher só podia ser espancada com um pau de amplitude inferior? O que se alterou desde o tempo em que as mulheres ficavam sem língua se retorquissem a um homem?
Teresa Coutinho crê num desfecho diferente da narrativa de medo, passividade e repetição cíclica dos mecanismos de opressão, numa caça às bruxas e às histéricas que são as trinetas das bruxas.