"Carmina Burana", de Carl Off, com a dramaturgia inconfundível de La Fura dels Baus, estará sexta-feira e sábado em Lisboa. Dia 28 atua no Porto.
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La Fura dels Baus cumpre este ano 40 anos, e ainda que a sua estética tenha feito uma viagem do "punk para a clássica, estando mais domesticada, a génese é sempre a mesma", garante Carlus Padrissa, diretor da mítica companhia que atua, esta sexta-feira e sábado, no Campo Pequeno, em Lisboa, antes de rumar ao Pavilhão Rosa Mota, no Porto, no sábado, dia 28.
"Carmina Burana", notável cantata de Carl Orff, marca o regresso do coletivo catalão aos auditórios, depois de vários anos a fazerem, quase exclusivamente, obras de grande escala.
"A música de Carl Orff é extremamente popular, toda a gente reconhece as suas cores e a sua força, o que não conhecem é a história da cantata. A obra, que convertemos dramaturgicamente, tem os elementos da Fortuna, do eterno retorno e dos ciclos da Natureza, como a tragédia grega. Carmina é uma criança e fazemos a sua transição para mulher. Depois de vencer o medo do desconhecido, torna-se poderosa, ao crer em si mesma. Há uma mensagem de ascensão feminina", conta o diretor. O poder desta mulher torna-se tal que ela "nada, corre e voa".
Da música ao silêncio
Em "Carmina Burana", um dos quadros cénicos mais impactantes faz alusão à transformação da água em vinho, ela encontra-se dentro de ´água e as uvas rebentam. A imagética será sempre o ponto forte da companhia, com uma marca indelével entre o surrealismo e a pós-modernidade. "Olhando para trás, o aforismo obedece sempre às mesmas normas: nascimento e morte", conta Padrissa.
A cenografia assenta num cilindro de 10 metros de diâmetro, para que a ópera não seja visível apenas de frente, mas para que se consiga uma atmosfera mais imersiva, exacerbada pelo facto de as salas do Porto e de Lisboa terem disposição em arena.
Apesar da forte componente visual, Padrissa conta que, no processo de trabalho, é sempre a música e o silêncio o que unem tudo. Todas as produções têm aí o seu ponto de partida. La Fura dels Baus tem 14 discos editados com música dos seus espetáculos.
Em "Carmina Burana" participam 150 intérpretes. Nos espetáculos em Portugal será a Lisbon Film Orchestra que executa a música. Esta é, até à data, a obra mais vista do coletivo catalão, tendo já uma década de maturação.
A interação com o público, outra das suas marcas de água, faz com que o público tenha um certo receio dos espetáculos. "Quando começámos, éramos super- -punk, éramos uns pontas de lança, agora nem guarda-redes somos, somos mais treinadores", ri Padrissa. No próximo ano, La Fura voltará ao seu barco Naumon e fará um espetáculo sobre a circum-navegação a bordo, para provar, 500 anos depois, que a Terra é redonda.