Londres recebeu este fim de semana o evento comemorativo dos 30 anos do lançamento do álbum "Pretty on the inside" das Hole. Courtney Love, uma das viúvas mais odiadas da música, celebrou à grande, com o seu novo cabelo muito "lady like" e o porte de quem passa os dias a beber chá. (Sim, a reabilitação parece ter efetivamente resultado desta vez). Mas Love não deixa de ser pungente e de ter o mesmo sangue provocatório nas veias.
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Courtney Love fez uma festa numa parceria com a londrina Parliament Tattoo para a celebração do 30.º aniversário de "Pretty on the inside", o álbum das Hole. O evento acolheu uma exposição de arte, tatuagem, música ao vivo e DJs em homenagem à estreia da banda que a lançou no estrelato.
"'Pretty on the inside' foi um grito de guerra para uma geração de mulheres que nem sempre se identificava com o papel de ser doce e obediente", disse em entrevista Nicola Mary Wyatt, proprietária da Parliament Tattoo.
O evento foi criado para "capturar a energia intensa e crua do álbum através de um meio visual, apresentando peças originais de trabalho de um grupo eclético de artistas de várias disciplinas e origens", da música às artes plásticas, incluindo Emma Ruth Rundle, Bella Kidman-Cruise, Holly Amber, Mercedes Helnwein , Daisy Parris e Sade English (todas as peças foram leiloadas para caridade). Além disso, Laura-Mary Carter dos Blood Red Shoes, Hands Off Gretel e Los Bitchos fizeram apresentações acústicas.
"A tatuagem tem sido associada à rebelião e apela àqueles que rejeitam as normas da sociedade", referiu Nicola Mary Wyatt.
No evento, pessoas de várias gerações tatuaram iconografia da banda no corpo, provando que Love continua a ser fonte de adoração.
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Courtney Love e Kurt Cobain foram o primeiro casal famoso de grunge, entre o casamento em 1992 e o suicídio de Cobain em 94. As Hole recebiam críticas altamente positivas pela música, mas eram bastante menos apetitosas do que as notícias do casamento de Love com Cobain.
Love é frequentemente culpada por alimentar o vício de heroína de Cobain, e alguns teóricos da conspiração até acreditam que ela contratou um assassino para matá-lo e fazer parecer que foi um suicídio. Nenhum dos companheiros de banda de Cobain nos Nirvana, Krist Novoselic e Dave Grohl, se davam bem com Love, que foi ainda acusada de causar discussões dentro da banda sobre royalties. Um produtor do Nirvana, Steve Albini, chamou-a de "besta psicopata".
O álbum "Live through this" ficou em 460.º lugar na lista dos 500 melhores álbuns de todos os tempos da "Rolling Stone" americana, e as Hole foram uma grande influência no movimento de mulheres punk e empoderamento feminino do início dos anos 1990. O álbum era tão bom que alguns fãs dos Nirvana diziam que que tinha sido Kurt a escrevê-lo. Misógino?
Há duas semanas, Love deu uma raríssima entrevista ao jornal "Los Angeles Times", sobre os 30 anos de "Nevermind", em que alegou: "Demorei décadas a perceber que não só eu não escrevia canções tão bem como Kurt, como ninguém o fazia". Pode ler a entrevista integral aqui.
Mas Courtney Love pode não ser a rainha das odiadas. Na disputa pelo trono está Yoko Ono, ainda hoje "acusada" por ter acabado com The Beatles. Muita da arte de Ono, música incluída, não foi entendida pelo público, e fãs de The Beatles ficaram especialmente consternados com o facto da artista japonesa ter influenciado John Lennon de forma tão forte. Como Courtney Love, Yoko Ono foi acusada de causar discussões dentro da banda do marido sobre o pagamento de royalties.
Yoko Ono teve uma relação notoriamente contenciosa com Paul McCartney, e muitos também a culpam pela deterioração da amizade entre Lennon e McCartney. Ono insinuou publicamente que McCartney é menos talentoso do que Lennon, e McCartney disse que "tenta ignorá-la". Recentemente, porém, os dois parecem estar em paz, tendo McCartney reconhecido a sua influência no período pós-Beatles de Lennon, e disse explicitamente à "Rolling Stone" que Ono não separou os Beatles.
Apesar de criar um corpo musical especialmente influente a partir do movimento pós-punk, e apesar da declaração explícita de McCartney, Ono não se livra do mito de supostamente ter separado a banda de rock mais amada de todos os tempos.
No top das mulheres odiadas está também Linda Ramone. O guitarrista Johnny Ramone seduziu Linda, namorada do cantor Joey Ramone, Linda, acabando por casar com ela. Joey ficou arrasado. Acredita-se que músicas como "The KKK took my baby away" e "She belongs to me" foram escritas por Joey acerca de Linda e Johnny. Assim afirma o biógrafo da banda, Melnick Monte. O triângulo amoroso foi uma fonte de tensão na banda até à morte de Joey em 2001. Apesar de fundarem uma das bandas rock mais importantes e influentes de todos os tempos e de realizarem digressões intensas, Joey e Johnny disseram que não se falaram depois de Linda se ligar a Johnny. O mesmo Johnny que aborda a rivalidade no documentário "End of the century".
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Outra mulher especialmente odiada foi Priscilla Presley, que casou com Elvis em 1967, sob pressão dos pais de Priscilla, que ameaçaram apresentar queixa contra Presley por levar uma menor de idade (14 anos) além-fronteiras para fins sexuais. O casamento em si causou ruturas em muitas das amizades do casal. O evento transformou-se num golpe publicitário apressado e muitos amigos não foram convidados, de acordo com Peter Guralnick, o biógrafo de Elvis. Durante o casamento, terminado em 1972, Elvis apresentou Priscilla às drogas pesadas, e tanto Elvis quanto Priscilla tiveram vários casos.
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Nancy Spungen, namorada de Sid Vicious, também faz parte deste rol muito pouco estimado, estranhamente por causa das suspeitas que sempre pairaram sobre Sid após o assassinato de Nancy. Vicious morreu meses depois e a polícia considerou-o culpado da morte de Nancy, fechando o caso, mas até hoje continuam as suspeitas. Aqui pode ver o trailer "Sid & Nancy", um filme sobre esta relação:
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E a voz de Love a repetir:
"If you live through this with me
I swear that I will die for you
And if you live through this with me
I swear that I will die for you"
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