Estreia esta quinta-feira “Bird”, um retrato poético da juventude de hoje pelo olhar da cineasta britânica Andrea Arnold.
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Desde que a sua obra foi revelada, há cerca de duas décadas, com “Sinal de alerta” e logo de seguida,“Aquário”, que a britânica Andrea Arnold se tem mostrado uma das cineastas mais admiradas da sua geração, com um universo muito focado nos jovens de camadas mais desfavorecidas da sociedade, nomeadamente do seu país.
Apesar de algumas derivas perfeitamente legítimas, dada a liberdade artística que também reclama, como uma adaptação de “O monte dos vendavais”, uma menos conseguida incursão por um outro território, em “American honey”, e o surpreendente e original “Vaca”, Arnold regressa ao seu habitat cinematográfico habitual em “Bird”, que agora estreia nas salas de cinema.
O filme esteve em Cannes 2024, que acolhe regularmente a obra da cineasta, cuja repercussão se pode medir também pelo facto de, na mesma edição, ter recebido da Quinzena de Cineastas o prestigiado prémio de carreira Carrosse d’Or – homenagem a uma das grandes obras-primas de Jean Renoir.
Em “Bird”, que filmou na região de Kent, Inglaterra, a sua atenção foca-se numa jovem de 12 anos, Bailey, que vive num bairro ilegal, com o irmão e o pai. Mas como este não lhe presta a devida atenção, Bailey vai encontrar uma inesperada figura tutelar…
Neste seu último trabalho, a britânica mostra como prefere claramente a poesia à sociologia, sem, no entanto, perder o contacto com o real e a denúncia da vivência precária dos mais esquecidos pela sociedade. Mas, através da relação de Bailey com a personagem de Bird, Arnold mostra-nos como o imaginário pode ser uma forma de fuga da realidade.
O drama vive muito do corpo e do rosto marcado do alemão Franz Rogowski, num trabalho memorável, com Arnold a perceber também o potencial de Barry Keoghan e a lançar uma nova e prometedora estreante, Nykiya Adams.