"O mal não está aqui": a nova fábula de ecologia e humanismo de Ryusuke Hamaguchi
Autor japonês do premiado "Drive my car", que venceu um Oscar em 2022, regressa com o novo filme “Evil does not exist – O mal não está aqui”, que chega esta quinta-feira às salas de cinema.
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Fiel a um histórico que já nos deu Ozu, Mizoguchi e Kurosawa, Tanaka, Oshima e Imamura, Takashi Miike ou Hayao Miyazaki, o cinema japonês continua a lançar para o mundo cineastas que rapidamente se tornam figuras de culto. Um dos nomes mais recentes é Ryusuke Hamaguchi.
Felizmente, o que nem sempre acontece com tantos autores, a obra de Hamaguchi tem sido adquirida para exibição em sala entre nós com bastante regularidade desde a sua descoberta internacional.
É assim que já vimos em Portugal obras como “Happy hour: Hora feliz”, “Asako I & II”, “Roda da fortuna e da fantasia” e “Drive my car” que, além do Oscar de Melhor Filme Internacional, tinha sido nomeado nas categorias de excelência de melhor filme, realização e argumento.
Num corpo de obra significativo, o ainda jovem japonês – tem 45 anos – mostra-se muito à vontade a contar histórias, a fazê-lo com a tradicional simplicidade nipónica, a filmar a palavra, a desvendar sentimentos, a cruzar relações.
No seu último trabalho, que estreia esta quinta-feira, “Evil does not exist – O mal não está aqui”, faz uma pequena inflexão de percurso, mas mantém as características que o tornam um dos grandes autores contemporâneos.
Basta ver as primeiras imagens, o céu entre as árvores e a presença ou não do Mal num título que nos surge desenhado com vários possibilidades de leitura, para perceber que estamos na presença de um pensador de cinema.
Estamos não muito longe de Tóquio, o Monte Fuji entreve-se numa breve passagem. Numa pequena comunidade da montanha, um homem vive com a filha pequena, em perfeita harmonia com a natureza. Transporta água de uma nascente e corta lenha. Este equilíbrio vai ser ameaçado pela construção de um “glamping”, um parque de campismo de luxo….
O Mal, um capitalismo liberal que passa à frente de tudo, parece existir mesmo. A tragédia humana poderá ainda alertar-nos para os perigos que nós próprios criamos, enquanto espécie?
Hamaguchi não dá respostas, não é sociólogo. Como cineasta, reflete sobre o mundo. E que bem que faz o seu papel.