O material como testemunha crítica do Mundo

Unidas em torno da ideia de “materialidade da história” e explorando a forma como os objetos são “veículos para construções sociais e de identidade”, as 28 obras de oito artistas contemporâneos patentes no Museu de Serralves representam a primeira exposição coletiva da instituição desde 2017, reunindo trabalhos criados especificamente para a exibição no Porto, como as peças de Cameron Rowland, Nour Mobarak, Sara Deraedt e Tarik Kiswanson.

Com curadoria de Philippe Vergne, diretor do museu, a mostra selecionou artistas que “partilham a necessidade e a tentativa de intuir criticamente o nosso tempo, a história que fazemos e os vestígios que deixamos”, lê-se no texto de apresentação de “Provas materiais”. Provenientes de países como Portugal, Suécia, França, EUA ou Palestina, as obras partem de uma relação com os materiais para um questionamento sobre temas como a memória, desenraizamento ou transformação, em suportes que vão do vídeo à escultura, da instalação à pintura.

Um bom exemplo da imbricação dos objetos com a história é a peça “Foresight” [Antevisão], de Tarik Kiswanson. Duas cadeiras entrelaçadas remetem-nos para a forma como os eventos históricos se encadeiam: uma delas foi fabricada para as tropas da Wermacht, em 1938; a outra foi produzida pela Móveis Cimo, em 1954, para os serviços de imigração no Brasil, país que viria a acolher um dos maiores fluxos de migrantes europeus no rescaldo da II Guerra Mundial.

Já “Rot” [Putrefacção], de Cameron Rowland, peça instalada no exterior do Museu, chegará a integrar-se na própria matéria da instituição: um amontoado de cana-de-açúcar que ali permanecerá até à decomposição, num comentário ao papel de Portugal na indústria açucareira madeirense dos séculos XV e XVI. Destaque ainda para as obras de P. Staff, que jogam com a matéria dos sonhos, da volatilidade, da embriaguez, através de ventoinhas holográficas que projetam texto e imagem.

“Provas materiais”

Museu de Serralves

Até 16 de novembro