Primordial e futurista, esta é a cultura que, de alguma forma, muitas vezes sem justificação racional, nos emocionou para ficar no coração. É o nosso “best of” de 2024 e não pretende ser consensual.
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CINEMA-Do quarto de Almodóvar à luz de Mombai
Segunda longa-metragem de João Salaviza e Renée Nader Messora com os índios krahô, “A flor do buriti” é uma homenagem genuína de quem com eles viveu a uma forma de estar na vida, em comunhão com a natureza, em risco de desaparecer. Primeiro filme de Víctor Iriarte, em coprodução com Portugal, “Sobretudo de noite” é uma viagem necessária e apaziguadora a um passado traumático da vizinha Espanha, banhado pela luminosidade de Ana Torrent e Lola Dueñas. Catorze anos depois de “Nas sombras”, que também vimos por cá, em streaming, o alemão Thomas Arslan retoma a personagem de Trojan, de novo interpretada por Misel Maticevic, em “Terra queimada”. O regresso do vilão frio e solitário a uma Berlim longe do circuito turístico. Desde Tom Ripley que não desejávamos tanto ser cúmplices de uma mente criminal. Pedro Almodóvar renova-se e universaliza-se, num sublime tratado sobre a amizade e a morte. Com total domínio das formas, “O quarto ao lado” é um filme de que dificilmente nos esqueceremos, até ao fim dos dias e com quem os quisermos passar. Um drama que convoca Tilda Swinton e Julianne Moore com as cores de Edward Hopper e os acordes de Alberto Iglesias teria de ser assim. Quase a chegar ao fim do ano, um dos mais belos filmes do ano “ Tudo o que imaginamos como luz”, da jovem indiana Payal Kapadia. Uma viagem à dura e fascinante metrópole de Mumbai, cruzando a história de duas mulheres em busca de sobrevivência e de um espaço para serem felizes.