Red Bull BC One tem qualificações em Matosinhos e Lisboa para apurar quem vai a Roland Garros.
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"O que anseia ganhar um jogador de ténis? O Roland Garros, não os Jogos Olímpicos. Com o breaking [género de dança que chegou a modalidade olímpica], aconteceu o mesmo durante muitos anos". A analogia é feita por Max Oliveira, que será este fim de semana o anfitrião do Red Bull BC One, "o Roland Garros do break", depois de ter ganho três vezes este campeonato com o seu grupo de dança Momentum Crew.
A etapa de qualificação tem duas paragens: a primeira no Silo do NorteShoping, em Matosinhos, já amanhã, e a final no sábado, no Suspenso, em Lisboa. Da capital sairá apurado o melhor de Portugal, com uma entrada direta para competir na final, em Paris, a 21 de outubro. O local não poderia ser mais adequado: o mesmíssimo palco do torneio de ténis Roland Garros.
O Red Bull BC One completa este ano 20 edições e tem representação em mais de 60 países. Anualmente milhares de B-Boys e B-Girls competem por uma vaga na final mundial do concurso.
A derradeira batalha tem apenas 32 lugares - 16 B-Boys e 16 B-Girls que sobem ao palco principal do Red Bull BC One. Desde 2004, ano em que arrancou o concurso, já foram disputadas 19 finais mundiais sediadas nas principais capitais. O evento engloba mais de 60 qualificações em mais de 30 locais.
Brigada de "artletas"
A história do break em Portugal funde-se também com a história pessoal de Max Oliveira, que além de ser apresentador do Red Bull BC One, está também entre oito personalidades do Mundo escolhidas para edificar o que serão os bastidores na estreia da modalidade nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Os sistemas de apuramento das duas competições são, no entanto, completamente independentes - invariavelmente, um dará mais destaque à parte artística e outro à componente desportiva.
Hoje, o panorama é muito distinto daquele que Max viveu quando começou, há mais de 20 anos. "Nós passámos de ser os miúdos a rebolar no chão que pediam por favor para lhes darem atenção, para darmos agora cinco a seis entrevistas por dia nos quatro continentes", diz.
Parte do êxito deve-se ao conceito dos "artletas" - é necessário "um corpo de atleta e um coração de artista". A atratividade chega também com outros fatores: "Isto é uma modalidade muito sustentável e isso provoca grande interesse. Não precisas de bola, não precisas de estádios de milhões, não precisas de nada. É possível fazer uma grande "battle" só com música no telemóvel. Isso possibilita que estejas no Rivoli, no Coliseu ou na rua", acrescenta Max.
O "lifestyle" atrai imensa gente, especialmente nesta era de conteúdos digitais, tornando-se "absolutamente tentacular", como foi a campanha para os Jogos Olímpicos, em que imensas personalidades mundiais de áreas remotas deram o seu contributo, como os atores Wesley Snipes ou Joe Rogan. Até Cristiano Ronaldo dançou break para o vídeo de apoio à modalidade.
Frutos do contexto
Outra das mudanças latentes é a entrada das B-Girls no circuito nacional e mundial. A velocidade não foi a mesma que no setor masculino, mas elas estão cada vez mais presentes.
Max Oliveira, no projeto de breaking nos bairros do Porto, fez sempre por incluir B-Girls como formadoras, porque "era muito importante desmontar a misoginia". Outro dos exemplos é o espetáculo "B-Girl" que estreará no festival DDD - Dias da Dança, em abril.
Vanessa Martins é B-Girl nacional mais bem classificada: 7.ª no ranking mundial e uma das esperanças para os Jogos Olímpicos. Este ano não se candidata ao Red Bull BC One, mas a fórmula de êxito, conta ao JN, passa por "abandonar os prazeres mundanos e estar completamente focada, um treino psicológico e físico fortíssimo".