Há um crescente número de concertos e de novas bandas, que inovam e conquistam um público vasto. Festivais são diversos em género e público.
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Por muito que se cresça, há características definidoras do caráter que nos acompanham por toda a vida. No caso do metal, a rebeldia, a inconformidade e o sentido crítico são uma tríade sempre presente. A massificação, expansão e diversidade deste género musical são corroboradas pelos números. No ano passado, houve tantos eventos que os dias do ano não chegariam para os espalhar pelo calendário. São oito, nove ou até dez por semana, mostrando que o metal está, como numa segunda adolescência, em crescimento.
Quem sustenta a sensação de crescimento com números é Carlos Guimarães, fundador e responsável da página Caminhos Metálicos. Com a tarefa de compor a agenda nacional de eventos de metal, dá-nos uma noção do estado da arte: em média, por ano, tem havido mais do que um por dia. “Só o nosso projeto, que é de pequena dimensão e apenas com cinco pessoas fixas a colaborar, cobriu 150 eventos.”
O crescimento já existia no pré-covid, mas “foi depois que se deu uma explosão”. Essa “explosão” acentuou uma característica já existente, diz: heterogeneidade. A nova era de diversidade acontece em vários domínios, ainda que, em Portugal, se continue a destacar a “faceta mais pesada, dado ser uma tradição portuguesa”.
Os números do Caminhos Metálicos são uma referência, ainda que não possam ser confirmados pela ciência. David Miguel, compositor e investigador, começa por frisar a falta de dados. “Não há nada académico que nos permita afirmar que há mais eventos de metal, mas, efetivamente, a perceção vai nesse sentido.”.
E a maior oferta, argumenta, poderá dever-se à maior procura. “O género massificou-se, tanto em público como em subgéneros”, afirma o académico. Além da massificação a maior procura está também “associada à capacidade económica do país”, acredita David Miguel.
Chegamos a outra conclusão de entendimento geral. “O metal parece estar a acompanhar a expansão geral da cultura e da música em Portugal.” David Miguel, da direção executiva da International Society for Metal Music Studies, frisa as suas afirmações como “hipóteses que parecem válidas”, apesar dos escassos estudos académicos sobre o tema.
Daniel Makosh, responsável pela discográfica Raging Planet, também acredita que este não é um fenómeno isolado. “Há mais interesse no metal como há mais interesse no rock em geral. Declara-se, de tempos a tempos, que o rock morreu, mas não morreu, nem antes, nem agora, nem no futuro.” Há sempre sangue novo a aparecer, assegura.
Apesar de entender que o metal está em crescimento, Makosh menciona o contraciclo do formato físico – que também acompanha uma tendência global. “Apesar desse crescimento, o metal é um mercado de nicho, hoje. Antigamente era normal vender nas grandes superfícies, como a FNAC, agora já não é.” Ainda assim, a massificação não esbateu a essência definidora e, por isso, “mantém-se o público do metal que é fiel e que não dispensa ter o seu vinil”.
Para lá do maior número de experiências ao vivo e do menor número de música física, há outra tendência que acompanha a evolução da música em geral na última década: a profissionalização do negócio e da estrutura logística. “A pergunta da indústria é sempre saber qual é a sustentabilidade do negócio. E se estes eventos eram algo meio improvisado na viragem do século, hoje aprendeu-se como fazer”, explica David Miguel.
A profissionalização pode também ter alavancado a tal característica definidora: a diversidade. Os concertos e festivais deste género são, hoje, diversos na tipologia em que se focam, na dimensão de público para a qual falam e em geografia.
Olhando para a lista de festivais de metal, há algo verificável: Porto e Lisboa, ao contrário do que é a restante indústria musical, são a minoria. A diversidade geográfica é “algo de sempre”, diz Carlos Guimarães, mas que se acentuou nesta fase de massificação do género.
A explicação? O caráter local da organização. “Estes eventos são sobretudo organizados por fãs, tirando os de maior dimensão que têm uma estrutura comercial.” O responsável do Caminhos Metálicos diz que o caráter associativo de muitos eventos faz com que não sejam muito estáveis – aparecendo, desaparecendo e reaparecendo.