Jorge Pinto encena peça de Arnold Wesker que faz perguntas eternas sobre relações amorosas. Em cena no Teatro Nacional São João até dia 22.
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Três enormes sofás compostos por almofadas coloridas e um longo balcão adornado por copos de vinho é o cenário onde irão evoluir três mulheres – Minerva (Emília Silvestre), Mischa (Margarida Carvalho) e Claire (Bárbara Pais) – e os simulacros de três homens, representados apenas por um ator, Afonso Santos, numa noite de “in vino veritas” em que serão desfiadas queixas, rancores e planos de vingança, bem como uma reflexão ampla sobre relações amorosas. É o Mundo dos homens visto pela lente das mulheres, que assim revelam também o seu próprio cosmos.
É a quarta visita ao universo de Arnold Wesker (1932-2016), dramaturgo britânico da geração dos “angry young men”, levada a cabo pela Ensemble, depois das encenações de “Cartas de amor em papel azul” (2005), “Quando deus quis um filho” (2006) e “Primavera selvagem” (2019). A companhia portuense aborda agora “Os homens morrem e as mulheres sobrevivem”, peça de maturidade redigida em 1990, com encenação de Jorge Pinto.
“Quando comecei a construir o espetáculo, senti-me voltar aos alvores da minha militância feminista nos anos 1970”, diz o encenador, que não se revê em muitos dos caminhos trilhados atualmente pelo movimento. “Era tudo sobre a igualdade de direitos e oportunidades. Hoje perde-se mais tempo a discutir se deve dizer-se presidente ou presidenta, desviando-se o foco do sofrimento real de mulheres que continuam sem voz.”
Para o encenador, este é essencialmente um espetáculo lúdico, um drama contemplativo, porque precisamos de descomprimir: “Em cada imagem que vemos na televisão parece haver uma arma apontada à nossa cabeça.” Mas o tema da peça não é exatamente ligeiro: três fracassos amorosos que são revolvidos numa noite em que se reflete ainda sobre judaísmo, política, literatura ou gastronomia – além da proverbial guerra dos sexos.
“Os homens morrem e as mulheres sobrevivem”
Teatro São João, Porto
Até 22 de junho