Obra emblemática do criador japonês Junji Ito, "Uzumaki", é finalmente editada em Portugal.
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Autor em alta atualmente, em parte fruto das diversas adaptações animadas das suas obras, que chamaram a atenção para os manga originais, Junji Ito é um dos expoentes do terror na banda desenhada japonesa.
"Uzumaki", que a Devir acaba de lançar em português (668 páginas, 31,99 euros) e cuja adaptação está em exibição na plataforma de streaming MAX, é uma das suas obras mais emblemáticas - e exemplifica o porquê do sucesso que tem vindo a granjear também no Ocidente.
A história decorre em Kurouzu-cho, uma pequena cidade japonesa, junto a um lago, cujos habitantes começam a ser afetados de forma traumática e fatal pelo que parece ser uma maldição associada à visão de espirais.
Ao longo do relato, o fenómeno adquire diversas formas e manifesta-se de modo diferente, mas o resultado é sempre obsessão, loucura e um desfecho funesto e grotesco.
Como elementos condutores dos diversos capítulos em que a maldição se vai apresentando em crescendo, surgem Kirie Goshima e Suichi Saito, dois jovens de Kurouzu-cho que tentam por todos os modos contrariar as consequências do que vai acontecendo à sua volta.
Muito difícil de resultar em banda desenhada, o terror em "Uzumaki" provém tanto do clima psicológico, tenso e angustioso que o autor cria, como da violência visceral de algumas das imagens que facilmente provocam desconforto ou incómodo. Vem, ainda, da crescente noção da impossibilidade de fuga e da inevitabilidade do desfecho.
Se num primeiro impacto, o traço de Ito aparenta ser agradável e Kirie surge como uma bela jovem, aos poucos o lado mais caótico e duro da narrativa vem ao de cima, através da deformação dos corpos ou da abominável representação pictórica dos fenómenos que muitas vezes ultrapassa o enquadramento regular das vinhetas, explodindo em ilustrações que podem ocupar toda a página.
De cada vez que pensamos que o horror já atingiu o seu paroxismo, Junji Ito desmente-o com novos e redobrados acessos de terror que nos fazem sentir, como que hipnotizados, tal como os protagonistas do livro, condenados a um pesadelo que se retorce sobre si próprio num movimento circular sem fim.