Abre hoje e projeta 250 filmes: focos para concerto de Lee Ranaldo, estreia da Pixar, evocação de Lynch e exposição da iraniana Maryam Tafakory.
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A guerra na Ucrânia pelo olhar de três realizadores da terra, a crise dos migrantes, o conflito na Palestina e, mais recentemente, no Irão. O estado da arte, os concertos de Lee Ranaldo e John Carroll Kirby, o apocalíptico, e célebre, episódio 8 de “Twin Peaks”, de David Lynch, o melhor das curtas nacionais, as últimas da animação e, acima de tudo, “a festa de sempre”. Está tudo nesta 33.ª edição do Curtas Vila do Conde.
É um retrato (dos males) do Mundo e do cinema no último ano para ver, a partir de hoje, na cidade costeira. Entre competições, cineastas emergentes ou revisitados e filmes-concerto, há mais de 250 obras para ver. É até 20 de julho em Vila do Conde. São esperadas 20 mil pessoas.
“Os filmes falam sobre questões atuais. É interessante que o Curtas suscite esse debate”, afirma Miguel Dias que, com Nuno Rodrigues e Mário Micaelo, dirige desde 1993 o Curtas Vila do Conde.
O festival arranca hoje, às 15 horas, com “Elio”, a mais recente película da Pixar. É o Curtinhas a abrir a cortina e a mostrar que formar públicos é um dos seus desígnios maiores.
A partir das 19 horas, abre a exposição da iraniana Maryam Tafakory “Qual é a dor que o cinema cura?”, que fica patente na Solar – Galeria de Arte Cinemática até 30 de agosto. Às 22 horas, a primeira de quatro “Cartas brancas”, com películas escolhidas pela realizadora e ativista e, uma hora mais tarde, um dos momentos altos do ano: o filme-concerto de Lee Ranaldo, ex-Sonic Youth.
Em nove dias, os filmes que passam pelo Curtas distribuem-se por sete secções competitivas: Nacional, Internacional, Experimental, “Take One!” (filmes de escolas), My Generation (destinado a jovens), Curtinhas e Vídeos Musicais. Na Internacional estão nomes como os ucranianos Sergei Loznitsa, Vitaly Mansky, Mila Zhluktenko ou John Smith, com o documentário “Being John Smith”. Na Nacional, Gabriel Abrantes ou Alice Eça Guimarães figuram ao lado da geração emergente.
Depois, nas “New voices” está a francesa Maureen Fazendeiro, há retrospetivas do cineasta norte-americano Whit Stillman, autor das comédias “Metropolitan” (1990), “Barcelona” (1994) e “The last days of disco” (1998), e do realizador palestiniano-dinamarquês Mahdi Fleifel, que estreia em Portugal “To a land unknown” (2024), apresentado no Festival de Cannes.
Realizadores conhecidos cujo último filme foi uma curta-metragem: é esta a ideia do programa “Last film”, que revela peças curtas de artistas cujo brilho alcançou já o grau da imortalidade. Dois casos: “O velho do Restelo” (2014), de Manoel de Oliveira, ou “Scenarios” (2024), de Jean-Luc Godard.
"Twin Peaks" especial
No “Cinema revisitado”, há uma evocação de David Lynch, falecido em janeiro aos 78 anos. O Curtas vai projetar em sala o célebre 8.° episódio da 3.ª temporada de “Twin Peaks” (dia 19, 23 horas). “São 56 minutos de película, da qual toda a gente já ouviu falar, mas poucos viram e ainda menos numa sala de cinema”, diz Miguel Dias.
Para o diretor, há “dois momentos a não perder”: a Competição Nacional (dias 17 a 19) e o filme-concerto do pianista, compositor e produtor John Carroll Kirby (dia 18, 23 horas), que irá musicar uma película especialmente encomendada para o efeito à venezuelana Nika Milano.
Crescer com certeza
O festival tem vindo a crescer e a somar parceiros e, nos últimos anos, a vertente profissional assume um papel cada vez mais importante. Este ano, para além da produção nacional, França e Croácia são os países convidados. Ali, há filmes à procura de estrear, projetos em desenvolvimento, películas que precisam de financiamento. Crescem as presenças de profissionais e Miguel Dias não esconde que espera que o público cresça com elas. Em resumo, sublinha o responsável, “o Curtas é um festival onde toda a gente encontra sempre, de certeza, qualquer coisa que lhe interessa”.