Sala portuense reabriu há um ano para uma segunda vida. Diretor Guilherme Blanc aponta ao JN as razões do sucesso já alcançado.
Corpo do artigo
“Conseguimos conectar com um público diversificado e com o tecido cinematográfico do país, que passou a encontrar no Batalha um lugar de conforto, de estímulo e de pensamento sobre o cinema”.
Eis o mais relevante no ano inaugural do Batalha Centro de Cinema nas palavras do seu diretor artístico, Guilherme Blanc. Reaberto a 9 de dezembro de 2022, o edifício desenhado em 1947 por Artur Andrade e recuperado por Alexandre Alves Costa, com financiamento da autarquia, celebra este sábado o primeiro ano da sua nova vida como lugar reinventado e expandido – mais do que uma sala de cinema, afirma-se como nova centralidade da Sétima Arte no Norte do país.
Tem sido um processo de aprendizagem e uma aventura, como naturalmente sucede quando se dá os primeiros passos: “Foi um ano para testar ideias programáticas. Até junho, foi um período de absoluta descoberta. A partir daí, passámos a ter um conhecimento mínimo sobre o comportamento do público e, desde setembro, é notória a estabilização do projeto e o seu crescimento”, diz Guilherme Blanc ao JN.
“Mais importante do que os números”, que serão revelados mais tarde, o diretor artístico salienta a importância de “saber se as pessoas gostaram e se regressam, tanto aqueles que veem como aqueles que vêm mostrar”, adianta.
Marca com três razões
Das múltiplas propostas do Batalha – “que é um instituição nova e deve repensar o espaço e o seu uso com um sentido de autocrítica” –, perguntámos ao diretor quais as que lograram maior adesão e melhor traduziram a filosofia do projeto.
Blanc identifica três: “Os ciclos temáticos em que se confrontam filmes clássicos com o cinema contemporâneo e as questões atuais; os ciclos retrospetivos prolongados, como os de Claire Denis e David Cronenberg, que permitem aprofundar a relação intelectual e afetiva com os autores; e as sessões especiais, como a do 25 de Abril, onde se investe nos cruzamentos disciplinares, associando-se o cinema à música ou à performance”.
Desenvolver e sedimentar
Outra medida para aferir o impacto do Batalha neste primeiro ano é a relação com escolas e universidades, e também neste capítulo a perspetiva é animadora: “Quase todas as semanas há dezenas de crianças no Batalha”, diz o responsável.
“Há também uma ligação forte às escolas de cinema, com as quais estabelecemos diálogos científicos. E tem havido aulas de universidade nas salas do cinema, de cursos como Direito ou Sociologia, quando há filmes em exibição que tocam em questões importantes para essas áreas”, explica Guilherme Blanc.
Para lutar contra a ideia do Batalha se tornar um “projeto para poucos”, a preocupação tem sido criar um programa diverso e criativo: “Temos chegado a públicos de diferentes idades e perfis: há os que aparecem para determinados eventos, como os festivais ou as matinés de domingo que se realizam em parceria com o Cineclube do Porto, uma tradição do Batalha que foi recuperada. Há os que aceitam experiências como a maratona de filmes que durou entre as 5 da tarde e as 11 da manhã, e, ainda, aqueles que vão a todas. Há também muita adesão aos cursos e aos grupos de leitura”, diz Blanc.
Olhando para a frente, o diretor admite que o Batalha já não está em fase de teste, mas sim de “desenvolvimento e sedimentação de práticas e de relações com público e interlocutores da exibição”. E avança uma novidade: a partir deste mês e ao longo do próximo ano, haverá uma nova rubrica: “Tesouros dos Arquivos” – a cada 15 dias, serão exibidas obras restauradas por cinematecas e arquivos, passando na primeira sessão o filme inaugural de Stanley Kubrick, “Fear and desire” (1953).
Destaques para o fim de semana
O filme de Duarte Gomes “Os amigos do Gaspar: Uma reunião na cidade” é exibido este sábado em duas sessões gratuitas: às 15.15 horas e às 17.15 horas.
No Batalha continua a decorrer a retrospetiva completa do cineasta canadiano David Cronenberg. Às 21.15 horas deste sábado passa “Cosmopólis”.
A manhã de domingo no Batalha Centro de Cinema abre com “Os marginais”, de Francis Ford Coppola (11.15 horas), em sessão do Cineclube do Porto.
À tarde, regressa o filme “Os amigos do Gaspar”, em três sessões: 15.15, 16.15 e 17.15 horas.
Na Sala 2 há uma alternativa: “Sou feia mas tô na moda”, de Denise Garcia Bergt, às 19.15 horas.
Os espectadores podem ver ainda as exposições “Jonathas de Andrade: Sobrevoo” e “Salomé Lamas: Paraficção”. E a instalação “Porto de dança: Breve história da cultura de clube na cidade”. As visitas são gratuitas.