Foram anos a fio de infindáveis conversas e outras tantas polémicas que, chegado o grande dia, passaram para segundo plano. A 13 de janeiro de 2001, o Porto assumia o título de Capital Europeia da Cultura e a resposta popular não poderia ter sido mais clara.
Corpo do artigo
"Festa na rua", titulava o "Jornal de Notícias" a toda a largura da primeira página, traduzindo por palavras (e imagens) a adesão das pessoas à plêiade de iniciativas que percorreram a cidade.
Através de várias reportagens que se estenderam por cinco páginas no interior do jornal, chegaram ecos múltiplos do clima de regozijo dominante no seio da população. O entusiasmo foi tal que, um pouco por toda a cidade, a concentração e o aglomerado de pessoas deram azo a situações de conflitos, prontamente sanadas.
Até mesmo no circunspecto Museu de Serralves a confusão bateu à porta. Na inauguração da mostra "In the rough: imagens da Natureza através dos tempos", viveram-se momentos de tensão entre os convidados VIP perante a extensão da fila de um milhar de pessoas. Um dos mais inconformados com a espera era o (então) banqueiro Jardim Gonçalves. "Se não podem entrar todos, por que razão no convite não mencionaram horas diferentes para a inauguração?, questionou aos jornalistas, visivelmente zangado.
Ainda mais confuso, mas certamente com menos arrufos de personalidades endinheiradas, foi o espetáculo multimédia na Ponte D. Luís. Nas margens do Douro juntaram-se milhares para contemplar, num estado próximo do êxtase, o fogo de artifício e a banda sonora a condizer que anteciparam o São João em vários meses.
A um par de quilómetros da Ribeira, no Coliseu, o espetáculo era outro, mas igualmente sedutor. O concerto de abertura convocou várias sonoridades, procurando agradar a uma plateia "com sensibilidades muito diferentes", como escreveu o jornalista Rui Branco.
Num "fim de tarde cheio de glamour", ecoaram pelo anfiteatro os acordes da então Orquestra Nacional do Porto, sob direção de Marc Tardue, e a obra "Mãos na pedra, olhos no céu", encomenda do Porto 2001 a João Botelho e a Mário Laginha que deixou a desejar em termos sonoros.
Quem também se fez ouvir no exterior do recinto foram os comerciantes, moradores ou profissionais das artes que, por diferentes razões, protestaram contra as injustiças agudizadas pela Capital Europeia da Cultura. Um dos mais apupados foi primeiro-ministro Durão Barroso que, de cara fechada, logo procurou refúgio no interior do Coliseu.