"Bem Bom", das Doce, um êxito no cinema, trouxe para a ordem do dia a história de outras bandas. JN foi à procura dos grupos que marcaram uma geração. Um deles prepara-se para regressar.
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Com mais de 30 mil pessoas somadas nas salas de cinema em menos de um mês, o filme "Bem Bom", um retrato biográfico das Doce, irreverente e icónica banda feminina dos anos 80 do século passado, trouxe para a ordem do dia o fenómeno das girls e boysband, que começou em Portugal - e há quem diga que também na Europa - com o quarteto português formado por Helena Coelho, Fátima Padinha, Laura Diogo e Teresa Miguel.
Nas duas décadas seguintes, este tipo de banda conquistou outros músicos, multiplicando rapidamente fenómenos como os Excesso, os D' Arrasar, os D'ZRT ou os 4Taste - estes nunca quiserem assumir-se como boysband mas apenas como "grupo de músicos" -, os Millenium, as Non Stop, as Docemania, as Delirium, as Bombocas, as Antilook ou as Just Girls.
A maior parte destes grupos teve uma existência limitada no tempo, como nota, ao JN, Tozé Brito, compositor e atualmente diretor e administrador da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). Muitos separaram-se, outros enveredaram por carreiras a solo. Mas há também quem, duas décadas depois da estreia, esteja a preparar-se para voltar à estrada e aos concertos ao vivo. Os D'Arrasar, que apareceram em 1998, são esse caso de reanimação.
D'Arrasar: Kapinha promete voltar aos palcos
A garantia de regresso é dada ao JN por Kapinha, um dos membros dos D'Arrasar - ao lado de CC, Jimmy, Joca e Ricardo -, e só a pandemia adiou o plano. Mas não o estragou. "Falámos em voltar aos palcos, mas a covid-19 trocou-nos as voltas", admite aquele que é o "tiktoker" português mais famoso da atualidade.
Na década de 1990, aqueles dias de concertos eram "uma coisa única", diz. "Num ano, a banda vivia cinco, porque podia haver 34 espetáculos por mês", lembra Kapinha.
"Já fiz dobragens, rádio e cinema. Mas a banda foi diferente de tudo, por aquilo que passávamos com a música e com a atração das pessoas." O artista garante que os cinco elementos da banda sentiam o "peso da responsabilidade", sobretudo em projetos sociais ou na área da saúde. "Dou o exemplo da nossa relação com os meninos do IPO. Segundo os médicos, eles melhoravam animicamente na véspera de os visitarmos", conta, comovido.
Hoje, o TikTok ocupa a maior parte do dia de Kapinha, que é um fenómeno no panorama nacional no que às redes sociais diz respeito. "Comecei por curiosidade e logo percebi a potencialidade daquilo. Hoje, 80% do tráfego na Internet deve-se a pequenos vídeos. É algo saudável, feito em família. As pessoas abordam-me na rua como no tempo dos D'Arrasar."
Excesso: dos palcos para os casamentos
No final da década de 1990, formada por cinco rapazes, outra banda marcava o tecido "pop" nacional. Melão, Carlos, Duck, João Portugal e Gonzo estiveram "um ano concentrados apenas no nascimento do projeto" que haveria de dar origem aos Excesso, lembra Fernando Melão. "Virámos Portugal do avesso no tempo certo", vinca. "Preparámos a banda a todos os níveis: vocal, musical, imagem, dança. Complementávamo-nos."
O cantor e bailarino ainda permanece ligado ao mundo da música. Os outros elementos dividiram-se pela fotografia (João Portugal), pelas vendas (Duck), pelo turismo (Carlos) e pela área do DJ (Gonzo). "Continuo a fazer produção artística e atuações, mas desde março passado só fiz quatro espetáculos."
Melão atua também em casamentos e diz que a receita é garantida: "Canto o "Coração de Melão" e o "medley" dos Excesso e o público fica louco".
D'ZRT: ganhar novos irmãos na música
Depois do sucesso conseguido por aqueles cinco rapazes, outros quatro explodiram no início deste século. Estávamos em 2004 quando, à boleia da série "Morangos com açúcar", os D'ZRT - Angélico Vieira, Vítor Fonseca (Cifrão), Edmundo Vieira e Paulo Vintém - conquistavam Portugal como poucos músicos.
O período de atividade, com alguns hiatos, prolongou-se até 2010 e os cinco discos lançados pelo grupo ultrapassaram a marca das 500 mil cópias vendidas em Portugal. A banda ficaria marcada pela morte de Angélico, com apenas 28 anos, num acidente de viação, em junho de 2011.
"Acima de tudo, aquilo de que mais me lembro daqueles tempos é o facto de ter ganho três irmãos", assegura Cifrão ao JN. "Continuamos a sê-lo, irmãos. Encontro-me regularmente com o Edmundo e o Vintém. Foi uma grande experiência junto ao público, uma loucura", observa Cifrão, ele que continua a dançar e a coreografar: "Estive nos prémios Play, no "The Voice Portugal", noutros grandes projetos e não me falta trabalho, graças a Deus".
Non Stop: portuguesas a par das Spice Girls
No arranque da década de 2000 formavam-se também bandas femininas, como as Non Stop. Andrea, Kátia, Fátima, Liliana e Rita brilharam entre 2000 e 2006, depois de terem ganho o concurso musical da SIC "Popstars", em 2001.
Além do reconhecimento do público, aquele grupo ainda ganhou, cinco anos depois, o Festival da Canção, com o tema "Coisas de nada". O tema levou-as ao Eurofestival, em Atenas, na Grécia, mas não lhes valeu mais do que um 19.º lugar.
"Aparecemos ao mesmo tempo que a maior banda mundial daquela altura, as Spice Girls. E chegámos a ter os mesmos produtores", lembra, orgulhosa, Liliana. "Aquilo era um mundo novo para nós. Nos transportes públicos e centros comerciais, o carinho das pessoas era uma loucura."
Hoje, Liliana e Andreia partilham o projeto "Kaya". "É uma fusão de fado, eletrónica e música angolana", descreve. "Vão espreitar ao YouTube, que vale a pena."
Delirium: zangas ditaram fim da banda
"Se o grupo não se tivesse zangado, possivelmente teríamos continuado, quem sabe?, talvez até hoje." Quem o diz, de forma convicta, é Mónica Sofia, uma das Delirium, ao lado de Carla Leão e Vânia Oliveira. "Foram tempos muito bons, de festa". Hoje, a cantora dedica-se ao desporto.
"Organizo eventos desportivos para empresas, faço "team building", cursos de sobrevivência. Com a pandemia, as pessoas procuraram mais a Natureza e está a correr tudo muito bem", remata.