O rapper norte-americano Future estreou-se nos palcos portugueses esta sexta-feira, no Super Bock Super Rock, num espetáculo em que as canções surgiram em catadupa e condensadas numa hora de espetáculo.
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A passagem de Kendrick Lamar pelo Super Bock Super Rock, no ano passado, deixou a fasquia elevada para os senhores e rapazes do hip-hop que se seguem. Future não teve direito à mesma sala lotada que recebeu Lamar, nem o público teve direito a uma atuação requintada como aquela que o rapper que partilha "Mask off" com Future trouxe ao Meo Arena.
Future, nome de guerra de Nayvadius DeMun Wilburn, teve sala meio cheia e a meio gás, com as filas da frente a vibrarem com as rimas do rapaz de Atlanta e as de trás a deixarem escapar um bocejo, interrompido pelos feixes de luz que volta e meia disparavam em todas as direções.
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Com dois discos com o selo de 2017 para mostrar, "Future" e "HNDRXX", o rapper apressou-se a debitar canção atrás de canção, intercalando com os costumeiros apelos "make some noise" ou "jump jump jump". "Darco" e "Comin out strong" (em que divide créditos com The Weeknd) foram algumas das mais de 20 canções que couberam numa hora de espetáculo, sem direito a encore.
A única máquina que produz som em palco é o rapper, que divide protagonismo com os três bailarinos que adornam algumas canções e com os vídeos cuidadosamente escolhidos para cada música. Do passado recente surgiram ainda "Move that dope" e "Thought it was a drought", dos discos de 2014 e 2015, respetivamente.
O single "Mask off" antecedeu uma explosão de confettis, muitos aplausos e uma despedida sem direito a regresso ao palco.
Antes, o Meo Arena tinha recebido o trio inglês London Grammar, que derramou a sua pop eletrónica e estelar coroada pela voz poderosa de Hannah Reid.
A proposta foi de viagem à estratosfera, com imagens do planeta Terra e das estrelas a servirem de pano de fundo para canções como "Sights" ou "Strong", recebidas com o reconhecimento de quem acompanha o grupo desde o disco de debute, "If you wait" (2013). Da mesma leva ouviram-se "Nightcall" e "Metal and dust", esta última acompanhada por uma aurora boreal que se transformou numa vertiginosa sequência de imagens do planeta que habitamos. Montanhas, glaciares, mares, florestas, cidades, lixo, células, explorações de petróleo e tudo isto outra e outra vez.
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Do último trabalho, "Truth is a beautiful thing", editado este ano, a banda de Hannah Reid, Dan Rothman e Dominic Major apresentou "Rooting for you" - ao início cantada à capela com a voz de Hannah a ecoar pelo recinto - ou "Oh woman oh man". Se fecharmos os olhos, conseguimos imaginá-los por cá mas numa sala mais pequena, amplificando a experiência sensorial que propuseram no festival.
Um abraço luso-brasileiro
Debaixo da pala do Pavilhão de Portugal, Capicua e Valete abraçaram os brasileiros Emicida e Rael e distribuíram a sintonia que atravessa o oceano sintetizada no projeto Língua Franca.
Ziguezagueram entre o percurso de cada um com vídeos que exibiam uma clave de sol na pupila de alguém rosa. Perante uma multidão considerável, o concerto ganhou particular encanto nos momentos em que Capicua desenlaçou a sua voz no microfone: porque com ela as frases drapejam e a cabeça e o corpo oscilam na ondulatória sequência de palavras.
E foram as palavras incisivas de Valete que também foram aqui celebradas, quando o músico mostrou ao vivo "Rap consciente", a canção que marca o seu regresso às rimas.
Momentos antes, Akua Naru foi bem menos enfeitiçante apesar do esforço - mais do que rap, disseminou un R&B monótono e banal, sem grandes predicados.
Esta sexta-feira, terão passado pelo festival 18 mil pessoas, segundo dados da organização.