O regresso em grande do cineasta de culto Hal Hartley

Hal Hartley esteve nas primeiras edições do Indie Lisboa. Causa justa: o realizador era, então, um dos nomes maiores da cena independente dos EUA, com filmes como "Flirt", "Trust - Uma questão de confiança" ou "Henry fool". Pertencia àquele grupo de cineastas bastante mais apreciado na Europa do que no seu país, e a presença de Isabelle Huppert em "Amador" era prova disso. E juntou-se a outros que foram desaparecendo do radar dos grandes festivais, como Todd Solondz.

Opções de vida pessoal? As cíclicas alterações de sensibilidade nas modas cinéfilas, que têm de abandonar ídolos para criar outros? Certo é que Hal Hartley está de volta e os muitos fãs que nunca perdeu podem dar-se por satisfeitos, porque manteve integralmente o seu estilo.

Primeira longa-metragem em 11 anos, "Onde aterrar" ganhou o prémio maior do Festival de Lisboa 2025 e tem agora estreia mundial em sala entre nós. Cabe aos cinéfilos merecerem a honra...

"Onde aterrar" parece ser o filme mais pessoal de Hal Hartley, com uma pontinha de autobiografia e pelo menos um olhar muito crítico, embora sempre com o seu humor refinadíssimo, sobre o mundo de hoje. É que o protagonista do filme é um realizador de cinema que deseja trabalhar num cemitério, ao mesmo tempo que começa a tratar do seu testamento. Os amigos pensam que está a morrer...

O cinema de Hal Hartley está todo em "Onde aterrar": personagens completamente à margem, uma espantosa coreografia dos diálogos, ágeis, incisivos e em permanente contraponto, a lógica do absurdo, uma narrativa minimalista, o controlo total da obra, produzida pela sua companhia, intitulada Possible Films, claro. E nem falta a presença de um dos seus atores fétiche, Robert John Burke. "Onde aterrar" é do melhor que por cá vimos este ano.

"Onde aterrar" ("Where to land")
De: Hal Hartley
Com: Bill Sage, Robert John Burke, Gia Crovatin, King Mustafa Obafemi
2025, M/12, 1h15m