Nova companhia Nem Marias Nem Maneis inquieta público através de espetáculos imersivos sobre Gaza, violência doméstica e migração.
Corpo do artigo
"Vai ser desconfortável". O alerta é deixado antes da performance iniciar. Vestidas de preto, as atrizes da Nem Marias Nem Maneis Companhia Teatral perguntam o nome a cada pessoa que entra na Arquivo Livraria, em Leiria, e escrevem-no em letras grandes no braço. Já sentado, o público fica em suspenso, num espaço mal iluminado. O ambiente é pesado. Instantes depois, uma voz pede para colocarem a venda, e começam a ouvir-se bombas, tiros, gritos, choro de aflição e breves diálogos numa língua desconhecida - que nos transporta para a Faixa de Gaza.
Segue-se um momento de silêncio - a assistência troca olhares de tristeza -, quando, de repente, se ouve um grito de dor lancinante de Cátia Ribeiro, 46 anos, atriz, encenadora e diretora de atores, que emerge de um monte de papéis de jornal, espalhados pelo chão, com o corpo de um bebé embrulhado num lençol. O lenço tradicional da Palestina com que cobre as costas e os ombros revela a nacionalidade da personagem, que embala a criança, enquanto chora. O incómodo é visível no rosto das pessoas. Algumas emocionam-se.