Até 8 de janeiro, no Teatro Campo Alegre, no Porto, a retrospectiva "Wim Wenders ao correr do tempo" celebra um dos reconhecidos mestres do cinema europeu, com cópias restauradas de títulos que abarcam quatro décadas de uma obra significativa.
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Wenders nasceu em 1945,em Dusseldorf, Alemanha, e fez parte do movimento de renovação do Novo Cinema Alemão, a par de nomes como Werner Herzog, Volker Schlondorff ou Rainer Werner Fassbinder.
Depois de uma década de 70 recheada de filmes interessantes, como "A angústia do guarda-redes no momento do penalty" ( o primeiro em que colaborou com o Prémio Nobel 2019 Peter Handke) , "Alice nas cidades" ou o indelével "Ao correr do tempo" - todos incluidos nesta retrospetiva, ver ficha ao lado -, o alemão aumenta decisivamente a sua influência com dois grandes clássicos: em 1984 , estreia-se "Paris, Texas", "road movie" filmado nos Estados Unidos e que lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes; e "As asas do desejo" (1987), filme-ensaio sobre uma Berlim individual e coletivamente à procura da mudança, que se tornou obra de culto para essa geração.
Vertente documentarista
Fassbinder entretanto já tinha morrido, em 1982. À entrada dos anos 90, Wenders e os seus colegas de geração foram perdendo fôlego e dando lugar a outras fornadas de cineastas alemães . Mas, ao mesmo tempo que assumia um lugar institucional enquanto presidente da Academia Europeia de Cinema, em 1996,Wenders ia firmando a sua reputação enquanto documentarista. O ciclo termina aliás com um belíssimo e doloroso documentário sobre o grande realizador norte-americano Nicholas Ray, então doente em estado terminal: "Nick"s film - Um ato de amor" (1980).
O pendor não ficcional perdurou. Em 1985, mostra a sua visão sobre o o cineasta nipónico Yasujiro Ozu , com Tokyo-Ga". Na década de 90, permitiu-lhe recuperar protagonismo, com obras de grande dimensão e impacto mediático. As abordagens à música cubana ("Buena Vista Social Club", de 1999), à obra de Pina Bausch ("Pina", de 2011) ou à fotografia de Sebastião Salgado ("O sal da terra", de 2014) valeram-lhe três nomeações aos Oscars.
Grande destaque também para a exibição de alguns dos títulos que o realizador rodou em Portugal, país que o acolheu em várias ocasiões. Numa delas, a convite de Lisboa Capital da Cultura 94, para quem realizou "Viagem a Lisboa", que inclui uma deliciosa aparição de outro dos seus mestres, Manoel de Oliveira. E foi também em Portugal que rodou "O estado das coisas", com Samuel Fuller, Robert Kramer e Artur Semedo.