Mário Freitas, criador da primeira banda desenhada portuguesa ilustrada através de Inteligência Artificial, afirma que papel dos criadores continua a ser fundamental. "Para haver arte, estamos sempre dependentes de humanos criativos", defende o autor de "A polaroid em branco"
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Se há três anos ilustrar uma BD utilizando Inteligência Artificial (IA) servia de mote a uma notícia de 1.º de Abril num site de referência, hoje em dia já é uma realidade. "A polaroid em branco" é a primeira obra portuguesa criada com recurso a esta ferramenta digital, em paralelo com as primeiras experiências nos EUA.
O seu autor é Mário Freitas, livreiro, editor, designer, legendador, colorista e, agora, também desenhador. Ao "Jornal de Notícias", explicou como trabalhou: "Executo um comando com o que pretendo e a IA cria 4 imagens com base nisso. A partir daí, posso gerar variações e escolher a que pretendo. Retoco em Photoshop, altero as cores, desenho eu próprio alguns detalhes e sou eu que defino a planificação das páginas".
Tudo muito simples, aparentemente, mas o autor alerta: "É fundamental perceber que uma IA não faz BD sozinha, nem sequer ilustra sozinha o resultado final. É necessária a intervenção humana para tornar a experiência numa BD real."
Como principais limitações do processo, aponta que "o resultado dos comandos é ainda muito imprevisível e raramente se obtém exatamente o que se pretende", embora isso "abra outras possibilidades e obrigue a ser muito criativo na construção da história". Com algum humor, acrescenta que "A IA é quase um parceiro temperamental que desenha o que lhe apetece e como lhe apetece!"
Mas também reconhece vantagens, a principal das quais "alguém que não domina o desenho mas faz tudo o resto na BD, poder criar uma história completa, num espaço de tempo muito mais curto do que leva um ilustrador a desenhar". Mas não deixa de vincar que "o trabalho dos ilustradores não está em perigo no médio prazo e diria que nunca. A IA sintetiza informação e incorpora os estilos de todos os ilustradores que já existiram. Para haver arte ou estilos novos, estaremos sempre dependentes de humanos criativos". Reconhece que "a IA ainda é fraca a gerar imagens de pessoas, mas cria cenários espantosos, que podem ser incorporados em páginas desenhadas por humanos".
"A polaroid em branco", será lançada durante o Amadora BD 2022, que vai decorrer entre os dias 20 a 30 deste mês, numa edição a cores com 16 páginas, sendo, segundo Mário Freitas, "uma BD curta, mas nem por isso menos ambiciosa".