Estreia esta quinta-feira nas salas portuguesas "O Último Azul", o novo filme do brasileiro Gabriel Mascaro.
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Começam a faltar palavras para caracterizar o cinema brasileiro de hoje, um dos mais vibrantes do panorama mundial, mostrando uma enorme capacidade de resiliência face a uma situação política e económica que tem tido momentos de enorme violência e desespero.
Quando ainda está em cartaz a primeira longa-metragem de ficção de Marianna Brennand, "Manas", surpreendente denúncia do abuso sexual de menores na região amazónica, regressamos ao território, embora num local muito distante, dada a sua imensidão, com a nova ficção do já conceituado Gabriel Mascaro, revelado pelo hoje filme de culto "Boi Neon".
Com "O Último Azul", Grande Prémio do Júri em Berlim, a partir desta quinta nos nossos cinemas, Mascaro regressa a um mundo distópico, mas não muito distante da nossa realidade, o que torna o relato tão realisticamente assustador.
O filme fala-nos de um Brasil onde os idosos de mais de 75 anos, já considerados improdutivos para o governo, são obrigados a ir para uma colónia, perdendo a sua independência financeira para os filhos. Mas Tereza recusa-se a obedecer e contrata um homem para a ajudar a fugir no seu barco pelo rio abaixo...
"O Último Azul", rodado numas paisagens amazónicas fora do bilhete-postal, conta com uma assombrosa participação da veterana do teatro, da televisão e do cinema, Denise Weinberg e também com um pequeno mas importante papel para um Rodrigo Santoro cuja caracterização nos faz demorar algum tempo a identificar.
Retrato do Brasil de hoje, mas também do mundo em que agora habitamos, filme fruto do bolsonarismo e da pandemia - uma dupla pandemia, chamou-lhe Mascaro em Berlim, onde o filme teve estreia mundial - "O Último Azul" tem ainda uma forte crítica à dimensão religiosa de um país maioritariamente evangélico.
Uma das mais incríveis personagens do filme é uma mulher que vende Bíblias em forma de tablete, mas assume que nem sequer acredita em Deus... Cinema-denúncia e cinema-espetáculo, um dos segredos do cinema brasileiro de hoje.