Banda escocesa regressa aos discos após hiato de 11 anos. “Look to the east, look to the west” traz de volta a luminosa voz de Tracyanne Campbell e a melancolia de um grupo cuja audição é sempre feliz.
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Uma das bandas mais soalheiras que a Escócia produziu está de volta aos discos em 2024, bem a tempo da canícula que, apesar das raízes firmadas em bruma, tão bem lhes assenta. 11 anos depois do último disco, os Camera Obscura editam “Look to the east, look to the west”, com todos os seus traços: a melodia, a melancolia, a paradoxal luminosidade. Ouvi-lo é descobrir saudades que nem sabíamos que tínhamos, de um coletivo nem sempre valorizado à medida do seu talento.
Tal como no aparelho que deu lhes nome, no grupo de Glasgow há uma certeza: a luz fura sempre por entre a escuridão. Ela vem na voz doce e característica de Tracyanne Campbell, vem nas melodias que tanto parecem fazer lembrar as praias da Califórnia como a nostalgia de um fim de época ou dos pores do sol; a luz vem neste dilatado e vagaroso regresso aos discos, neste subir à tona que representa o primeiro trabalho desde a morte da teclista Carey Lander, em 2015.
Foi no início do ano 2000 que a banda começou a impor-se nas rádios, apesar de um som sem grandes ganchos comerciais, antes perfeito para saborear na ociosidade. Ao 3º trabalho, “Let's get out of this country” de 2006, temas como “Loyd, I'm ready to be heartbroken" ou o perfeito “Razzle dazzle rose” comprovavam que havia vida na pop escocesa além dos Belle & Sebastian, inevitáveis aliás as comparações quanto ao indie melódico. “My maudlin career” em 2009 firmou a escalada do grupo, travada pela morte de Lander e inevitável hiato.
O coletivo voltou a reunir em 2019 já com nova teclista, mas a pandemia adiou o disco; até agora. No trabalho, as influências de Tracyanne, do country a Nancy Sinatra, as letras sobre a solidão, a essência estão lá, sem singles claros mas numa audição e conjunto, como sempre, felizes e apaziguadores. O álbum inclui “Sugar almond”, eulogia a Carey Lander, ponto mais catártico num regresso bonito.