"O vigilante", a nova série com a marca de Ryan Murphy disponibilizada pela Netflix, falha em toda a linha, apesar do bom começo.
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À partida, "O vigilante" pouco ou nada tinha para falhar: um realizador badalado (Ryan Murphy, o mesmo de "American horror story" ou "Glee"), uma dupla de protagonistas de prestígio (Naomi Watts e Bobby Cannavale, secundados por Mia Farrow e Richard Kind) e, sobretudo, uma premissa narrativa estimulante (a história de uma família que, após mudar-se para uma casa de sonho, vê a sua vida transformar-se num autêntico inferno, devido às ameaças misteriosas que vai recebendo).
O que falha, então, para que cheguemos ao final desta minissérie com a sensação de que algo correu (mesmo muito) mal para recebermos com uma sensação de alívio algo que deveria despertar o sentimento oposto, em função do excelente augúrio?
O problema de que padece "O vigilante" não é, afinal, muito diferente do de muitos outros projetos similares (como as caóticas séries "Quem matou Sara?" ou "The woman in the house across the street from the girl in the window", também da Netflix) e radica na ideia atualmente instalada no audiovisual de que o espectador é incapaz de concentrar-se por um período superior a cinco segundos (vá lá, dez), pelo que precisa que esteja sempre a acontecer algo.
O tempo necessário para que as personagens ganhem espessura, para que a história soe mais credível, em suma, é todo ele gasto numa narrativa em permanente movimento, com tantas voltas e reviravoltas que o pobre do espectador termina cada episódio com a sensação de ter andado numa montanha russa interminável.
Esse corrupio desenfreado de ações faz-se sentir em "O vigilante" logo a partir do segundo episódio e só se agrava até ao final. Para lançar a dúvida sobre quem é o autor do plano maquiavélico de sabotagem dos sonhos de uma família que se muda para os subúrbios em busca de paz e apenas encontra o seu oposto, Ryan Murphy baralha e volta a baralhar a narrativa tantas vezes - lançando sempre novos suspeitos, cada qual mais inverosímil do que o anterior - que ficamos com a sensação de que quem se perdeu na condução da série foi o próprio realizador.