Cantor italiano regressa a palcos portugueses em dose dupla, hoje e amanhã, acompanhado por orquestra com 70 músicos.
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No apogeu da era dos concertos de estádio, seria difícil convencer alguém de que, quando a moda passasse e novas realidades económicas e sanitárias impusessem mudanças, uma das mais notórias exceções ao naufrágio dos megaeventos musicais urbanos não festivaleiros fosse um tenor italiano numa zona sonora híbrida, com elementos de pop mas no essencial assente na música clássica.
Mas assim tem sido com Andrea Bocelli nos últimos anos, antes e depois da eclosão da pandemia de covid-19. E de várias formas: percorra-se o YouTube e logo se percebe que, além do circuito de atuações mais ortodoxo, o cantor de 62 anos integra uma outra tradição, a dos intérpretes famosos e/ou de vozes pujantes convidados para abrilhantar os preliminares de eventos desportivos com uma canção, uma ária ou um hino. A aparição mais recente de Bocelli nessa qualidade teve uma audiência virtual de muitos milhões: foi a 11 de junho no Stadio Olimpico di Roma, quando interpretou "Nessun dorma", de Giacomo Puccini, a rematar a cerimónia de abertura do Euro 2020.
O intérprete de "La voce del silenzio" operará hoje e amanhã outra raridade, desta vez em Portugal: dois concertos no Estádio Cidade de Coimbra, a partir das 22 horas, levando público a um tipo de local que há muito não registava vivalma. Depois do cancelamento da data original, 4 de julho, e por questões de segurança, o espetáculo foi desdobrado em duas atuações, com lotação a 50%. Pela mesma razão, a Autarquia ditou o encerramento das esplanadas na zona envolvente e a proibição de venda ambulante entre as 18 horas e as 2 horas da madrugada.
Acompanhando Andrea Bocelli em palco estará uma orquestra com 70 músicos, além de um coro com 60 vozes. O concerto, anuncia a promotora do evento, a MOT - Memories of Tomorrow, será dividido em duas partes: árias de ópera na primeira metade e, na segunda, um apanhado de outras canções de sucesso que salpicam uma carreira discográfica que se iniciou em 1994 com o álbum "Il mare calmo rac será". Ao tenor e multi-instrumentista proveniente da região da Toscânia juntar-se-ão alguns convidados, que a organização descreve como "célebres" e cuja identidade não foi divulgada, com a exceção de Mariza.
O mais recente álbum de Bocelli chama-se "Believe", chegou em novembro de 2020 e contém um repertório escolhido sob o signo da pandemia, da "Hallelujah" de Leonard Cohen a "Amazing grace", entoada a meias com a cantora americana de country Alison Krauss. Sem coincidências, o disco abre com um clássico das bancadas de futebol: "You"ll never walk alone".
De árias seculares a sucessos pop mais recentes
A avaliar pelos mais recentes concertos de Andrea Bocelli, na primeira parte das datas em Coimbra deverão escutar-se diversas árias de Giuseppe Verdi, de "La donna è mobile" a "Va, pensiero". Na segunda metade não faltarão os maiores sucessos, "Con te partiró", "Vivere" e "Amapola" à cabeça.