"Profundamente desagradada" com a escolha do japonês Kengo Kuma para desenhar o Pavilhão de Portugal na exposição mundial de 2025 na cidade de Osaka, a Ordem dos Arquitetos questiona o processo que conduziu à exclusão de profissionais portugueses.
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Dois dias depois de ter sido tornada pública a decisão de atribuir ao arquiteto japonês Kengo Kuma e ao seu ateliê KKAA o desenho do Pavilhão de Portugal em Osaka 2025, a Ordem dos Arquitetos (OA) vem manifestar estranheza pelo processo.
"É lamentável que, considerando o prestígio e reconhecimento dos arquitetos nacionais no panorama internacional, Portugal se apresente com um edifício que não tenha a autoria, ou pelo menos coautoria arquitetónica portuguesa", defende a OA em comunicado.
A Ordem questiona o "concurso com parâmetros que induziram a que isso acontecesse", em particular a alínea que exigia “mais de 6 anos de experiência como responsável técnico pela conceção e construção de edifícios no Japão, de características similares, iniciada e concluída nos últimos 10 anos”.
Segundo a OA, a aplicação dessa exigências em edições anteriores teria impedido que, entre outros exemplos, "Álvaro Siza e Souto de Moura, por incrível que pareça, poderiam ter tido dificuldades em se apresentarem à realização do Pavilhão de Hannover no ano 2000".
Frisando que a contestação não interfere com "o respeito pela figura e pelo trabalho de Kengo Kuma", a entidade representativa dos arquitetos portugueses cita os exemplos das representações de países como a Espanha, Itália, Bélgica, Suíça, Países Baixos, China ou Estados Unidos da América, que escolheram arquitetos nacionais para projetarem os pavilhões dos respetivos países.
Com um custo estimado de 13.6 milhões de euros, o Pavilhão de Portugal na Expo 2025 elege como tema os oceanos e aposta na sustentabilidade.
Kengo Kuma, de 69 anos, formou-se em Arquitetura na Universidade de Tóqui em 1979, completando os estudos na década seguinte na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Apesar da formação internacional, Kuma imprimiu desde cedo ao seu trabalho a tentativa de recuperar a tradição dos edifícios japoneses e reinterpretar essas tradições para o século XXI. A primeira distinção recebida, atribuída pelo Architectural Institute of Japan, data de 1997, tendo sido ordenado em 2009 Cavaleiro da Ordem e das Letras pelo Governo francês.
Com uma obra arquitetónica representada em países como os Estados Unidos, Alemanha, Dinamarca, Canadá, Suíça e França, Kengo Kuma é também o autor, a par do arquiteto paisagista Vladimir Djurovic, da renovação do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, em Lisboa.