Não faz vénias, não bate palmas, não tem emoções, mas consegue usar três batutas ao mesmo tempo: a orquestra sinfónica de Dresden, na Alemanha, está a experimentar um novo maestro robô.
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Chama-se MAiRA Professional S, é um robô condutor de música da nova geração, e estreou-se este fim de semana em Dresden, cidade do leste da Alemanha, a dirigir a Sinfoniker. A orquestra sinfónica é reconhecida pelas suas inovações e escolheu celebrar o 25.º aniversário com este novo Robotersinfonie, revelou o jornal inglês “The Guardian”.
Quer isto dizer que os robôs vão substituir os maestros humanos? Não exatamente – pelo menos para já...
A Sinfoniker pretende demonstrar os mais recentes avanços em maestros mecânicos, mas, sobretudo, dar soluções a músicas intrincadas e escritas explicitamente para aproveitar a tecnologia do século XXI.
O diretor artístico da Sinfoniker de Dresden, Markus Rindt, disse que a intenção “não passa por substituir os seres humanos”, mas sim executar a condução de músicas complexas que os maestros humanos de dois braços considerariam até agora impossíveis.
Batutas são sabres de luz
A apresentação do MAiRA Professional S integrou um concerto dividido em duas partes: a primeira foi puramente humana, mas, após o intervalo, a condução foi entregue ao novo robô. Nas duas partes, os músicos foram sempre humanos.
As batutas de MAiRA são um trio de sabres grossos de luz, cada um com uma cor diferente, para marcar o tempo. O conjunto é dividido em três partes, cada uma respondendo à sua batuta para criar ritmos cruzados.
Cada “braço” de MAiRA possui sete articulações, permitindo que se mova e se estique em todas as direções. Mas se a música for demasiado forte, com variações no ritmo de grande velocidade, um mecanismo de segurança entra em ação para evitar que MAiRA possa auto-infligir danos – ou provocar danos aos músicos humanos.
A peça executada chama-se, muito apropriadamente, “Semiconductor's masterpiece” ("Obra-prima do semicondutor"), e é da autoria do compositor Andreas Gundlach, que a escreveu para 16 músicos de sopro e quatro percussionistas.
Os compassos são extremamente divergentes. Alguns começam devagar e depois aceleram; noutros, é ao contrário, mas sempre com mudanças rápidas de velocidade. Alegadamente, um maestro humano não seria capaz daquela condução.
Andreas Gundlach disse à emissora pública alemã MDR que as habilidades técnicas de MAiRA garantiram que a música soou suave, “como se viesse de uma única fonte”.
Meios de comunicação locais relataram uma “receção entusiasmada” nesta estreia mundial na noite de sábado.
Robôs e pessoas podem cooperar
A ideia de um maestro robô é um sonho de 20 anos de Markus Rindt, diretor artístico da Sinfónica de Dresden. Para realizar o sonho, Rindt trabalhou com especialistas do CeTI, centro de inovação tecnológica da Universidade de Dresden.
Esta inovação tem como base o princípio de que os robôs e os humanos podem cooperar em vez de competir.
Rindt ensinou MAiRA a reger como faria com um humano, exibindo movimentos de braço até 40 vezes para que pudesse integrá-los e adotá-los com complexidade cada vez maior. O projeto foi aprofundado durante dois anos.
Rindt disse ao canal MDR que teve esta ideia do robô maestro há exatamente 23 anos, enquanto ensaiava uma composição bastante complexa. Um dos músicos de fagote disse ao maestro: “Você está a reger os clarinetes em tempos de 3/4 e eu tenho 5/8, um andamento totalmente diferente. O que é que devo fazer? Assim, ninguém está a reger-me..”. E o maestro respondeu: “Pois, eu não sou um robô”.