Projeto com jovens de favela do Brasil apresenta-se no Teatro Tivoli, em Lisboa, esta sexta-feira. A entrada é livre.
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Eleita Património Cultural Imaterial do Rio de Janeiro, abençoada pelo Papa Francisco, tornada símbolo do poder da música na superação, prova de como circunstâncias não nos definem: a Orquestra Maré do Amanhã, grupo de músicos nascido numa das mais perigosas favelas do Brasil, volta a Portugal esta sexta-feira, 2 de fevereiro, para um concerto único no Teatro Tivoli de Lisboa. A entrada é livre.
Os músicos fazem parte do projeto social no Complexo da Maré, uma favela do Rio de Janeiro, e voltam a Portugal, país com o qual têm uma ligação umbilical, depois de se darem a conhecer no ano passado, na Jornada Mundial da Juventude.
Na altura, a Orquestra Maré do Amanhã fez ainda uma pequena digressão pelo país e realizou flash mobs em zonas turísticas de Lisboa, Cascais e Porto. Agora, e antes de regressar a Portugal, os músicos passaram por Alemanha e Itália, onde tocaram para o Papa Francisco no passado dia 24 de janeiro, numa audiência exclusiva em que receberam a bênção do pontífice.
Sete mil impactados
Segundo a organização do concerto do Tivoli, o espetáculo é único, com um alinhamento variado e escolhido a dedo pelo maestro Filipe Kochem. Haverá muita música popular brasileira, de artistas como Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Raul Seixas; além de êxitos do pop internacional, que vão desde Michael Jackson aos Foo Fighters, passando por Guns n’ Roses, The Beatles e Anitta. Há também música clássica e, especialmente para o público nacional, a orquestra tocará “Uma casa portuguesa”.
A história do grupo remonta ao final do século passado: o diretor, Carlos Eduardo Prazeres, é filho do maestro português Armando Prazeres, que morreu na favela da Maré em 1999. Numa comunidade conhecida pela violência, o maestro foi primeiro sequestrado e depois assassinado, por criminosos do Complexo da Maré.
Na dor e revolta, Carlos Eduardo Prazeres decidiu trazer mudança e esperança para as novas gerações: inspirado no trabalho do pai, que tinha como mote popularizar a cultura, o filho do maestro criou em 2010 as bases da Orquestra Maré do Amanhã.
O projeto começou com apenas 26 alunos e, 14 anos depois, cerca de sete mil jovens já foram impactados, atendendo a todas as crianças matriculadas nas escolas da Maré, desde a creche. Durante o processo, são identificados os maiores talentos e vocações, que são convidados a integrar o braço profissionalizante do projeto: a Camerata Jovem Maré do Amanhã.
Os alunos recebem um auxílio financeiro no valor de um salário mínimo, bolsas de estudo em escolas privadas, aulas particulares de instrumentos e atendimento psicossocial. Além disso, são capacitados como professores e repassam aos pequenos das orquestras mirins, multiplicando o exemplo que receberam.
Fazer igual em Portugal
Ainda segundo a promotora do evento, em 2023 e além dos concertos referidos, os músicos atuaram no Festival Músicas do Mundo, em Sines, na Catedral do Sé do Porto, e em Arouca, terra natal do maestro Armando Prazeres. Faltava a capital.
“Neste regresso à Europa, não havia como não voltarmos a Portugal, depois de termos sido tão bem recebidos pelo público português. Também ficamos com vontade de mostrar em Lisboa o repertório completo, como fizemos nas outras cidades. Os flash mobs foram incríveis. Mas ainda faltava um concerto em Lisboa”, explica Carlos Eduardo.
O filho de Armando Prazeres volta ainda a Portugal com outra missão; além do concerto, gostava de criar um projeto semelhante ao da Orquestra Maré do Amanhã no nosso país, estando já à procura de patrocínios. “É o meu sonho. Retomar o que meu pai fez pelo Brasil, mas na terra dele, Portugal. Já temos tudo projetado com o maestro Filipe Kochem, vindo para Portugal num primeiro momento a ajudar a implementar esta ideia”, garante.
O concerto acontece esta sexta, pelas 19 horas no Teatro Tivoli BBVA. A entrada é livre mediante levantamento na bilheteira do teatro, e limitada aos lugares disponíveis.