Foi no Porto que nasceu a galeria de arte mais antiga do país, sem interrupções ao seu funcionamento.
Corpo do artigo
Tudo começa no dia 4 de maio de 1954: Jaime Isidoro (PT, 1924-2009) funda com António Sampaio (PT, 1916-1994), no número 171 da Rua da Alegria, no Porto, a Academia Livre de Desenho e Pintura Dominguez Alvarez no contexto cultural de coragem marcado pelas atividades do Cineclube do Porto que apresentava, aos domingos de manhã no Cinema Batalha, filmes, muitos deles proibidos pela censura e que eram precedidos por palestras; pela criação, em 1953, do Teatro Experimental do Porto pelas mãos de António Pedro (CV, 1909-1966) e pelas tertúlias nos cafés Majestic, Leão Douro, Primus, Rialto, entre outros, num clima de tensão revolucionária, protagonizado por artistas, arquitetos, escritores e intelectuais unidos por objetivos políticos e culturais.
Jaime Isidoro, como nos descreveu no catálogo comemorativo dos 50 anos da Galeria Alvarez1, viveu intensamente este período que designa como a “fase heróica da cultura na cidade do Porto nos anos 50/60”. No entanto, considerava que era necessária a integração das artes plásticas neste ciclo que integrava o cinema, o teatro e a literatura. A Academia Livre de Desenho e Pintura Dominguez Alvarez era um espaço, em registo oficinal, promotor de experiências e diálogos que procurava conduzir as aprendizagens de acordo com a personalidade de cada aluno, tendo sido pioneira numa necessária procura da rutura com os academismos vigentes e com a dicotomia mestre-discípulo, castradora da introdução das vanguardas, a rebentar em contexto internacional e à espreita de possibilidades de apresentação por uma nova geração de artistas portugueses, os primeiros que de forma mais massiva, através de bolsas ou fugindo das contingências do regime, contactou com a produção artística dos grandes palcos culturais europeus.