<p>Na aldeia de Pereira, em pleno interior algarvio, ainda há muito boa gente que se lembra dos tempos em que a carroça de burro era o meio de transporte mais comum. Depois, a "malta nova" foi tirando a carta de condução e os primeiros motores que se ouviam roncar lá pelos campos eram os das velhas motoretas, que, ainda hoje, alguns moradores conservam no quintal das suas casas. "Isto nem gasolina leva. Só 'mistura', que trazemos de Portimão", contam.</p>
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Desde Novembro do ano passado, tudo mudou com a inauguração do autódromo do Algarve. Aquela que era uma aldeia "que nem vinha no mapa", passou a ter ali vizinhos de luxo e até já é servida por uma auto-estrada (A22), quando antes as ligações às vizinhas localidades de Arão e Mexilhoeira Grande se faziam por estradas apertadinhas, sinuosas e frequentemente com mais buracos que alcatrão.
A dois passos do Algarve "que vem nas revistas" - do Sasha, do Nikki Beach e outras festas "in" carregadinhas de gente que chega de Lisboa - a Pereira conserva ainda, o toque a campo, a calmaria do interior, onde, por muito que seja difícil para alguns acreditar, há ainda muito boa gente que nunca pôs os pés numa praia. E vive, desde sempre, a pouco mais de uma dúzia de quilómetros da "movida" da Praia da Rocha, entre outras.
O contraste entre o que resta do casario branco, em habitações quase sem janelas - "era a melhor maneira de nos protegermos do calor", recordam os mais velhos - com as construções novas que vão aparecendo espalhadas pelos montes em volta, oferecem um cenário que poucos identificariam como Algarve.
A dois passos das grandes acelerações, há ainda galinhas a passear o dia inteiro pela estrada que atravessa a aldeia. No Café Gonçalves, o único da aldeia, a freguesia habitual habituou-se há muito a conviver com estrangeiros, a maioria alemães e holandeses, que trocaram o frio e a neve dos seus países, pelos montes algarvios, onde o clima é temperado todo o ano. Afinal, até há meia-dúzia de anos, ainda se deixavam as portas abertas e as chaves na fechadura. "Hoje, já nem todos arriscam", dizem os habitantes. Sinais dos tempos, num lugar onde o próprio tempo parece passar mais devagar.