A quinta edição do Festival Internacional de Literatura e Língua Portuguesa ocupa o Beato Innovation District de 9 a 11 de maio, com vários autores nacionais e internacionais, e um programa multidisciplinar que inclui debates, exposições e concertos. As escolas também foram chamadas a participar.
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São cinco, os pilares fundamentais da cultura literária reunidos e celebrados no Beato Innovation District de 9 a 11 de maio: a Língua, a Literatura, os Livros, as Livrarias e a Leitura. Na sua quinta edição, o 5L Festival Internacional de Literatura e Língua Portuguesa leva à capital debates, espetáculos, exposições, mesas de autor e oficinas, numa proposta de reflexão conjunta, de autores e leitores, à literatura e aos desafios atuais da comunicação, riscos da desinformação e as fronteiras cada vez mais difusas entre realidade e ficção.
A Lisboa, chegam nos próximos dias autores nacionais e internacionais de renome, do pensador libano-francês Amin Maalouf, a Tracie Hall, primeira mulher a liderar a Associação de Bibliotecas Americana e grande defensora da liberdade de expressão nos EUA, aqui numa palestra sobre “Desinformação, censura de livros e o fim da democracia”.
Marca também presença o autor mexicano Juan Villor, numa conversa com José Alberto Carvalho sobre algoritmos, inspirada no seu novo ensaio “Não sou um robô”.
Alberto Manguel, ex-diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, apresenta uma palestra sobre a ficção distópica e Paul Lynch um debate com Isabel Lucas, também sobre a distopia com que arrecadou o Booker Prizer de 2023, em “A Canção do profeta”.
No dia 10 de maio, é convidada a escritora francesa Lola Lafon, no debate-lançamento da edição portuguesa de “A pequena comunista que nunca sorria”, obra que revisita a história de Nadia Comaneci.
Entre os portugueses, destacam-se nomes como Jorge Amorim, Rui Torres e António Feijó a debater com Pedro Mexia vanguardas literárias; bem como o autor de ficção científica Luís Filipe Silva, Ricardo Araújo Pereira, Francisco José Viegas, ou Samuel Úria e Capicua – num debate com Nuno Artur Silva sobre a palavra no rap e na canção de autor.
Valério Romão, Sandra Guerreiro Dias, Sal Nunkachov e Manuel Portela debatem a experiência na poesia, e as autoras Filipa Fonseca Silva e Mafalda Santos e a investigadora Carla M. Soares conversam sobre distopias literárias, entre outros focos de interesse.
“Uma reflexão da cultura e cidades”
Segundo explica ao JN Edite Guimarães, chefe de divisão da Rede de Bibliotecas de Lisboa, o evento, que nas primeiras edições esteve sob direção do livreiro José Pinho, pretende ser um “momento de reflexão entre a cultura e os temas fundamentais para o desenvolvimento sustentável das cidades”, colocando a cultura no centro da reflexão crítica, “a partir do foco na língua e na literatura, onde a prática literária se desdobra, não só na sua dimensão ficcional, mas também ensaística”, refere.
Num ano que tem como novidade a inclusão de um programa dedicado à Inteligência Artificial, há uma reforçada aposta na multidisciplinaridade, adianta, sendo ponto de destaque o espaço para a escuta da palavra ao vivo com espetáculos, concertos e performances: logo no dia 9 de maio, a programação arranca com o espetáculo multimédia “São feitas de palavras as palavras”, com Drumming – Grupo de Percussão, a atriz Beatriz Batarda e António Jorge Gonçalves (num desenho em tempo real), seguida de uma Festa da Poesia.
Dia 10 de maio, há “Unicórnios & Violetas”, ou um concerto narrativo de Ana Sofia Paiva, Jorge Cunha Machado e Simon Frankel sobre a língua e o amor; e a Lisbon Poetry Orchestra, que vem apresentar o projeto “Cidade nua”.
No dia 11 do mesmo mês, Cristina Paiva apresenta a performance "Poesia à la carte" e o festival encerra com um concerto de uma outra poetisa dos nossos tempos, Ana Lua Caiano.
Ao longo dos três dias do festival, vai decorrer também uma visita performativa à Fábrica da Moagem pela artista Leonor Cabral, um programa educativo com várias propostas e oficinas para famílias e a exposição “Todas as coisas são mesa para os pensamentos”, que parte do acervo de máquinas de escrever do Banco Santander, apresentando uma combinação única de obras de poesia visual de artistas consagrados e emergentes – como Mané Pacheco, Xavier Ovídio, Ed Ruscha, Raffaella Della Olga, Fernando Aguiar, Dom Sylvester Houédard, Ana Hatherly, Leonora de Barros, entre outros.
O 5L de 2025 conta ainda com três curadores: Carlos Vaz Marques, Catarina Magro e Jorge Amorim, que se juntam às Bibliotecas de Lisboa para pensar a Literatura, a Língua, a Inteligência Artificial e a Ciência Cognitiva nos tempos atuais, num programa completo e diversificado que pode ser consultado online.
Pensado pela autarquia
Segundo Edite Guimarães, o Festival Lisboa 5L foi criado em 2018 na sequência de uma decisão da Câmara de Lisboa, que definia a concretização, em 2020, da 1.ª edição do Festival Internacional de Literatura e de Língua Portuguesa: uma “celebração dos 5L que integram o nome do festival, a partir de uma matriz programática multidisciplinar”, conta ao JN.
No entanto, devido ao contexto pandémico, a programação idealizada não pode ser concretizada em pleno, tendo na sua primeira edição o festival assumido o formato online, a 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa.
A edição de 2021 aconteceu num formato híbrido, com a programação presencial a acontecer no Teatro S. Luiz e ao redor do Chiado e, em 2022, o festival aconteceu pela primeira vez em formato totalmente presencial, mantendo o coração do programa no Teatro S. Luiz, com a restante programação espalhada por espaços parceiros: livrarias, outros teatros, bibliotecas, museus e hotéis.
Depois de um alargamento geográfico, 2024 foi ano de pausa e reflexão, explica a organizadora, chegando-se a 2025 com uma lógica de descentralização da oferta cultural, mas o festival em si concentrado num único espaço da cidade: o efervescente hub do Beato Innovation District.
Para Edite Guimarães, o festival tem como grande objetivo o de “concretizar um evento literário, organizado pela Rede de Bibliotecas de Lisboa, de dimensão internacional, que celebre a Língua, os Livros, a Leitura e as Livrarias”.
Este ano, o tema é “Inovação: Utopia / Distopia”, escolha baseada no cruzamento entre a cultura e a inovação, “dois pilares essenciais para a governação” das cidades, refere esta responsável.
“Foi ao refletirmos sobre este cruzamento, através da literatura e da língua, que começou a emergir um programa que explora utopia e distopia, inteligência artificial, tecnologia da linguagem, vigilância sobre a linguagem e mudança linguística”, refere.
Ainda antes do programa, que agora começa no dia 9, o festival já andou pelas escolas de Lisboa, numa espécie de pré-arranque com atividades de literatura e leitura. “Levar atividades de mediação da leitura às escolas é proporcionar um momento de contacto com histórias e com os livros, que nos transportam para outras realidades, nos divertem, nos fazem pensar e sonhar”, frisa a chefe de divisão da Rede de Bibliotecas de Lisboa. “E sim, é um pequeno contributo do Festival Lisboa 5L para espalhar o gosto pela leitura a todas as crianças e jovens destas turmas, algo que fazemos diariamente nos espaços das nossas bibliotecas”, conclui Edite Guimarães.