"Os descobridores do amor": viagem pela solidão e à procura da "centelha de amor e beleza"
"Os descobridores do amor", novo espetáculo de João Garcia Miguel, com interpretação de Petrônio Gontijo e Ademir Emboava, leva-nos ao amor, ao conflito, à herança dos antepassados e à verdade. A peça estreou-se no dia 13 e está em cena até 28 de setembro, no Teatro São Luiz, em Lisboa.
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Uma viagem ao passado (e ao futuro), inspirada no universo do poeta Camões, a narrativa de "Os descobridores do amor", parte de uma tentativa de compreender, através da escrita, a herança deixada pelos nossos pais e antepassados.
Em palco, conhece-se a história de um homem, um poeta, inspirado livremente no universo do autor de "Os Lusíadas", que atravessou vários tempos até chegar àquele momento e local.
Interpretadas por dois atores, Petrônio Gontijo e Ademir Emboava, estão cinco personagens: o Zarolho - personagem criada "a partir dos espaços de sonho que a biografia de Luís Vaz de Camões permite", representado por Gontijo; e o Velho, a Velha, o Inquisidor e a Criança, todos executados por Emboava.
Ao JN, o ator brasileiro Petrônio Gontijo, com uma carreira firmada em produções televisivas, de cinema e teatrais, explica como o fascinou esta história onde, através das personagens e das transformações por que elas passam, somos puxados para uma viagem circular pela solidão, o ato de criar narrativas para sobreviver, e pela "demanda obstinada por uma centelha de amor e beleza".
Meses de ensaios com muita carga poética
A peça chegou a Gontijo por mão do amigo e coprotagonista, Ademir Emboava. "O Ademir faz parte da companhia do João Garcia Miguel, já trabalhava com ele, e estavam à procura de um outro ator para fazer este espetáculo. Eu já tinha feito dois trabalhos com o Ademir no Brasil e ele sugeriu o meu nome, pelo que o João Garcia ligou-me; e tivemos uma conversa maravilhosa", conta-nos o ator, sobre o início do projeto.
Depois, deu-se a vinda para Portugal e meses de ensaios, com a escrita do encenador, dramaturgo e artista plástico português a surpreender o ator. "O texto do João Garcia surpreendeu-me muito, pela carga poética que tem dentro dele, dramática e poética: dramática no sentido de cénica, não é uma poesia apenas, é uma poesia absolutamente encenável. Fiquei muito animado com o texto, com as possibilidades nele, e com a possibilidade de o fazer", adianta, revelando alguns detalhes sobre a mensagem da dramaturgia.
"É, no fundo, uma história fascinante e que mistura esta viagem, uma viagem no tempo aos nossos antepassados. O título, remete-nos talvez mais facilmente à questão do amor romântico - e é, também, mas não é só. Ela fala muito de um amor ético, esse texto do amor da pessoa, do poeta; o amor a partir do que você consegue fazer de melhor para si através do outro. É desse amor que penso que o texto fala mais. O amor da união entre as pessoas, o amor da troca entre as pessoas, independentemente de julgamentos", destaca Gontijo.
Aqui, a figura do poeta é como um símbolo, "um símbolo do homem que está a tentar fazer uma travessia através do medo - através, não, uma travessia pelo medo", destaca o ator. "Ele vai ter de enfrentar os seus medos, as suas dificuldades, através de quatro figuras que lhe aparecem, que são os personagens do Ademir. E existe, através desse confronto, essa travessia do encontro do poeta com o que realmente ele está a procurar".
O teatro como "questão "de vida ou morte""
Para Petrônio Gontijo, com largos anos de trabalho, sobretudo em televisão e cinema, o teatro é sempre um desafio diferente. "Faço bastante televisão, bastante cinema no Brasil. Agora, a possibilidade que o teatro dá para o ator do exercício mais prolongado de elaboração, isso só existe ali", explica, e completa: "Porque, na hora em que o ator pisa as tábuas do palco, na hora em que tem ali uma pessoa à sua frente, a respirar junto dele, isso é um estado para o ator que é uma coisa impagável, é uma coisa que acontece ou não acontece. O efeito do teatro pode acontecer e pode também não acontecer. Por isso eu costumo dizer que o teatro é uma questão "de vida ou morte". Acontece ou não, não há paragens, não há regravar", conta. "Estudei artes, sou da escola de artes cénicas, mas andei a minha vida toda à procura disso, da comunicação que o teatro nos oferece".
Entre ensaios, o ator tem aproveitado também a oportunidade para descobrir mais Portugal. "Tenho adorado, tenho bastante amigos aqui, há uns três anos que venho a Portugal, e tenho conhecido todo o interior também, todas as cidades pequenas, as cidades grandes, os vilarejos... gosto de ir, gosto de conhecer. Tudo isso contribuiu também para aceitar esse convite e vir para cá, ficar estes três meses para podermos fazer a peça".
A peça "Os descobridores do amor", produção conjunta dos teatros Aveirense, José Lúcio da Silva de Leiria, Virgínia de Torres Novas, e São Luiz Teatro Municipal de Lisboa está em cena, na sala Mário Viegas até 28 de setembro. As sessões são de quarta-feira a sábado, às 19.30 horas; e, ao domingo, às 16 horas.