Os Depeche Mode vieram a Algés e tiveram mais de 50 mil pessoas à frente. Muitas vieram para ouvir hits como "Personal Jesus", outras por militância e algumas outras porque sim, o que também é válido.
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Os Depeche Mode continuam os mesmos de há trinta anos: o vocalista Dave Gahan usa a mesma t-shirtzinha, continua a balançar o tronco e os braços naquela ondulação e guarda aquela voz. E existem os hits, que continuam a ser tocados nas boates.
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Ao longo de quase hora e meia, foram desfilando peças de "Songs of faith and devotion", "Spitrit" e "Violator". O encanto dos Depeche Mode acontece sobretudo quando se sintonizam na pop helicopteriana, quando daquela maquinaria se soltam curvas ressoantes em ricochete e pirilampos em fato de astronauta. Mesmo sem grandes conversas com o público, Dave Gahan não teve dificuldades em seduzir.
Se "Barrel of a gun" abriu e estendeu o tapete para uma nova corrente de Gustavo Santos em alfazema, foi com "Everything counts", já mais à frente, que se escancararam as portas das delícias que traziam nos bolsos: "Enjoy the silence" e "Never let me down again" antecederam o encore, que reservou "Home", "Walking in my shoes", "I feel you" e a obrigatória "Personal Jesus". Sentiu-se odor de celebração.
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O festão dos Cage the Elephant
Os Cage the Elephant são um fenómeno. Ainda os Depeche Mode desfiavam sucessos no palco principal quando os Cage the Elephant subiram ao palco Heineken - cheio - para servirem um banquete com punk rock nas veias.
O vocalista Matthew Shultz parece um digno herdeiro de Ian Curtis, franzino e esfuziante, corpo frenético numa toada de rock elétrico direto aos corações dos muitos fãs. Em torno da tenda Heineken, apinhada, começou a acumular-se a massa humana que se despedira há pouco dos Depeche Mode e que se deixava seduzir pela energia que emanava deste palco secundário.
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No outro lado do espetro musical, os Fleet Foxes trouxeram disco novo, "Crack-up", acabado de editar, e derramaram o seu folk rock para uma plateia de fãs que se deixou deslumbrar com canções como "Fool's errand" ou "Third of May / Odaigahara". Na plateia, um grupo de raparigas dançava com os pés despidos no relvado sintético, num círculo imperfeito que remetia facilmente para a pintura de Henri Matisse "La danse".
Aos registos antigos, os norte-americano foram buscar "Mykonos" ou "White winter hymnal", canções que mereceram a ovação sentida da plateia.
Aquecimento para Depeche Mode
Antes, o palco nobre do festival recebeu os norte-americano Imagine Dragons, a banda que, em Portugal, ficou popular com a canção "On the top of the world", que serviu de banda sonora a uma campanha publicitária.
Quatro anos depois, a grupo liderado pelo elétrico Dan Reynolds regressou aos Passeio Marítimo de Algés, enchendo as medidas aos muitos fãs - maioritariamente adolescentes - que se acotovelavam nas filas da frente. Pelo recinto, avistou-se uma bandeira da Irlanda em dia de regresso dos Kodaline ao festival.
Fora dos holofotes, o português Benjamim levou ao Coreto as canções do seu novo trabalho, "1986", com destaque para o calor tropical de "Dança com os tubarões" ou a subtileza de "Terra firme". Benjamim já é um nome seguro da nova música portuguesa e este novo trabalho, a meias com o britânico Barnaby Keen, só serve para cimentar essa certeza.
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O Nos Alive regressa ao Passeio Marítimo de Algés em 2018, nos dias 12, 13 e 14 de julho.