Enquanto contamos as semanas que faltam para a publicação da biografia de Manuel António Pina e para a reposição integral dos episódios de "Seinfeld" na Netflix, mantenhamos o foco no dia, marcado pelos concertos, no Porto e na Gaurda, de Fausto Bordalo Dias e Sérgio Godinho.
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O dom da ubiquidade dar-nos-ia decerto muito jeito nesta sexta-feira pré-outonal. A capacidade de estarmos em mais do que um local ao mesmo sítio seria preciosa para que os efeitos dos mais de 200 quilómetros que separam o Porto da Guarda pudessem ser suprimidos, permitindo assim o o visionamento simultâneo dos concertos de Sérgio Godinho e Fausto Bordalo Dias, caprichosamente marcados para a mesma hora.
'Compagnons de route'de toda uma vida, os dois cantautores mantêm com os palcos formas de estar substancialmente distintas. Se Godinho nunca escondeu o gozo de partilha e de proximidade com o público, da parte de Fausto o entusiasmo não será idêntico, o que está longe de significar menor entrega durante os concertos.
Durante duas noitas consecutivas, nesta sexta e sábado, o autor de "Em busca das montanhas azuis" apresenta-se na Casa da Música trazendo consigo duas dezenas de canções extraídas de mais de dez discos. É uma autêntica jornada musical através de diferentes épocas, exemplarmente resumidas na expressão "Atrás dos tempos vêm tempos", título de uma canção que já foi álbum duplo e agora dá nome a uma série de espetáculos.
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As canções com histórias vão ressoar também no Teatro Municipal da Guarda, cujo auditório principal recebe nesta sexta Sérgio Godinho. Inserido na candidatura daquela cidade à Capital Europeia da Cultura, o concerto não vai resumir-se ao simples revisitar de temas emblemáticos da carreira, já que o autor de "Pano-cru" continua em plena ebulição criativa, brindando-nos com novos temas frequentemente.
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É um dos acontecimentos da 'rentrée' e já tem data marcada de saída e tudo - "Para quê tudo isto", a monumental biografia que Álvaro Magalhães escreveu sobre Manuel António Pina chega às livrarias a 30 de setembro. No próximo volume da coleção de biografias de figuras contemporâneas que a Contraponto, dirigida por Rui Couceiro, tem vindo a editar, Magalhães recorda o escritor, o jornalista e o amigo, reconstituindo com precisão, ao longo de quase 500 páginas, uma vida plena que logrou tocar muitas outras.
Os zunzuns corriam há anos, mas só agora há confirmação oficial: a Netflix vai disponibilizar já no próximo mês as nova temporadas integrais de "Seinfeld", muito provavelmente a 'sitcom' das ''sitcoms'. Poder rever em alta definição personagens impagáveis como George Costanza, Kramer ou Elaine, além de Jerry Seinfeld 'himself'ém 'upgrade' extraordinário que perimitirá substituir os DVD manhosos em que tanta gente, este escrita incluído, gravou os episódios originais, já lá vão demasiados anos.
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Nesta inventariação despretensiosa de mestres sem cerimónias há que falar ainda de "Dentro de ti ó cidade", o ambicioso livro com que o Setor Intelectual do Porto do PCP assinalou os 100 anos de existência do partido. À chamada responderam 80 autores, entre escritores, jornalistas, fotógrafos editores e artistas plásticos, num rol onde encontramos nomes como os de Mário Cláudio, Modesto Navarro, Jorge Sarabando, Germano Silva, João Pedro Mésseder ou João Manuel Ribeiro.
Quem também participa é o escritor Francisco Duarte Mangas, através do poema "As palavras":
"seria maio saímos à rua
a primeira manifestação na aldeia de rossas
o jorge dfez os cartazes
e ele também das pedras do pelourinho
desatou as palavras de fogo
éramos muito jovens a navegar num sonho lindo
todos nós o guardámos no coração
o jorge disse palavras noas algumas só entendi depois
eram de fogo sim traziam a doçura das cerejas
a liberdade livre numa remota aldeia do minho
seria maio de mil novecentos e setenta e quatro
gritávamos o povo unido jamais será vencido
e o senhor azevedo da mercearia saiu da loja
com o cínico sorriso marcelista
mas nada poderia fazer
éramos todos muito novos
não queríamos roubar nada
apenas exercitar a língua
adir vocábulos interditos ao quotidiano
sem medo da guarda sem medo de ninguém"