Geopolítica mundial em foco na mostra de documentários que decorre na vila do Alto Minho. Há 33 filmes de 23 países em competição e um tributo a Jean-Loup Passek.
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"De Melgaço para o Mundo" é o lema do MDOC - Festival Internacional de Documentário de Melgaço, que está a decorrer até 3 de agosto na vila do Alto Minho. Melgaço foi escolhida pelo cineasta, historiador e crítico de cinema Jean-Loup Passek para albergar o seu espólio num "museu sentimental", que se tornou, entretanto, emblema do município, e de onde várias gerações de emigrantes foram "a salto" para França.
Passek será lembrado no último dia desta 11.ª edição do MDOC, com a estreia nacional de um filme tributo intitulado "O homem do cinema", de José Vieira, que resultou de uma residência cinematográfica realizada anteriormente no âmbito do próprio festival. Além do foco no cineasta falecido em 2016, o festival lança este ano "um olhar sobre o Mundo", pondo no divã os seus problemas geopolíticos, propondo-se refletir também sobre "a identidade, a memória e a fronteira" da própria localidade que acolhe o certame.
"Tentamos encontrar filmes que de alguma forma dialoguem com aquilo que é a nossa realidade aqui em Portugal e criar pontes de diálogo entre a atualidade, aquilo que se passa no Mundo, e a realidade do nosso país. Trazemos filmes de geografias muito diversas", diz ao JN Patrícia Nogueira, da direção do MDOC, indicando que a programação contempla 33 filmes de 23 países [Espanha, Estados Unidos, China, Canadá, República Checa, França, Síria, Países Baixos, Líbano, Ucrânia, Dinamarca, Irlanda, Alemanha, Irão, Suécia, Lesoto, Catar, Arábia Saudita, Egito, Polónia, Geórgia e Iraque e Portugal]. Todos são documentários, entre 16 curtas e médias-metragens e 17 longas-metragens, selecionados entre "mais de 800" candidatados que competem aos prémios Jean-Loup Passek, D. Quixote (FICC) e, pela primeira vez, ao FIPRESCI Prize, atribuído pela Federação Internacional de Críticos de Cinema.
Israel, Palestina, Rússia
"Temos filmes que nos falam do conflito israelo-palestiniano, alguns que tocam na questão da Ucrânia e outros ligados à imigração e aos refugiados. São muito atuais e acabam por criar pontes com Portugal, que sempre foi um país de emigração, de gente que foi para fora à procura de condições de vida melhores", detalha Patrícia Nogueira, recordando que também Melgaço é "zona de emigração". Uma realidade que tem inspirado a produção de documentários ao longo do tempo com residências artísticas e que já constitui um extenso espólio do festival.
Esta edição do MDOC é novamente organizada pela AO NORTE e pela Câmara de Melgaço, com jovens cineastas a desenvolveram projetos documentais em contexto real, e que estarão esta semana distribuídos por quatro equipas em filmagens no terreno. "Estes filmes e projetos fotográficos vão ser apresentados no próximo ano. Na abertura deste festival fizemos uma sessão com os filmes do ano passado", refere Patrícia Nogueira.
A programação inclui, entre outras atividades, uma oficina de cinema com Margarida Cardoso, uma masterclass com Sandra Ruesga, e o X-RAY DOC, de Jorge Campos, sobre duas obras de Chris Marker e Joris Ivens.