Os Quatro e Meia lançam o seu segundo álbum original. "O tempo vai esperar" conta com Carlão e Pedro Tatanka.
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Os Quatro e Meia nasceram de um acaso. Com apenas um disco editado em 2017, "Os pontos nos is", e sem publicidade, esgotaram o Coliseu do Porto, foram convidados para o Festival Marés Vivas, encheram a Casa da Música e andaram num rodopio de concertos. Na véspera de lançar o segundo álbum, "O tempo vai esperar", que tem a participação do rapper Carlão e de Pedro Tatanka, vocalista dos Black Mamba, a banda de Coimbra continua sem perceber o que lhe aconteceu. "Nada foi premeditado. Tudo não passou de um conjunto de acasos felizes".
Síndrome do 2.º disco
Produzido pelo músico e compositor João Só, cujo estúdio também acolheu a gravação das 10 faixas do disco, "O tempo vai esperar" fica disponível a partir de sexta-feira, dia 25. E apresenta mudanças em relação ao álbum de estreia. "São mudanças ao nível das influências musicais. No fundo, este trabalho corresponde ao nosso crescimento natural, ao amadurecimento na forma como construímos as músicas", diz, ao JN, Tiago Nogueira (voz e guitarra).
"Também tivemos o privilegio, ao longo destes anos, de conhecer músicos que se tornaram nossos amigos e que, naturalmente, vieram trazer um acrescento importante ao álbum", referiu o contrabaixista Pedro Figueiredo. Exemplo disso é o trabalho desenvolvido por João Só.
"Levou-nos para uma forma diferente de construção das músicas. É bom ter alguém de fora com um olhar neutro em relação ao projeto", considera Tiago Nogueira. Não obstante o amadurecimento, a banda não se afasta radicalmente da sua matriz musical, que é a música popular portuguesa mesclada com outros géneros, como o hip-hop em "Bom rapaz", tema em que participa Carlão.
Mantendo os instrumentos que habitam o álbum de estreia, bandolim, acordeão e contrabaixo, agora a banda acrescenta o piano e a guitarra elétrica. "Houve uma procura pela experiência de fazermos coisas novas", nota Pedro Figueiredo.
Conciliar carreiras
Não fora o facto de, em 2013, terem sido convidados para animarem os intervalos entre bailados num sarau de angariação de fundos para uma academia de dança de Coimbra e Os Quatro e Meia provavelmente nem sequer existiriam como banda.
"A nossa estreia não teve glamour nenhum. Nem sequer tínhamos um nome pensado. Foi quando já estávamos em palco e nos perguntaram como poderiam apresentar-nos, que nos ocorreu o nome. Éramos cinco tipos (o sexto elemento teve nesse dia o casamento de uma prima) e um de nós é o mais pequeno de todos. Ainda por cima, tinha a alcunha de "Meia-leca". Então dissemos que éramos "Os Quatro e Meia".
A partir daí foram surgindo convites para concertos. "Naquele sarau de 2013 cantámos versões de outros artistas, como Miguel Araújo, João Gil e Rui Veloso. Depois percebemos que tínhamos procura. Aumentámos o reportório com musicas originais que foram surgindo de forma natural".
Formado por três médicos, dois engenheiros e um professor de música, o grupo reconhece que nem sempre é fácil conciliar a paixão pela música com a paixão pelo trabalho que exercem. "Naturalmente, temos de desdobrar-nos em termos de tempo e sobretudo aproveitar esse tempo muito bem. Essa é também uma das tónicas do novo disco", revelam. De resto, sublinham terem a "sorte" de lidar com "colegas, patrões e responsáveis de serviço que são compreensivos".
Ainda assim, garantem todos, estão na música e nas respetivas profissões "com muito afinco, disponibilidade e generosidade" porque ambas representam o que realmente gostam de fazer. "Encaramos isto como privilégio. Sentimo-nos muito abençoados por conseguirmos fazer algo de que gostamos tanto sem termos de abdicar da outra parte".