Com as cadeias de vendas de livros online na mira, autor espanhol Jorge Carrión faz a defesa firme das livrarias tradicionais no seu novo título “Contra a Amazon e outros ensaios sobre a humanidade dos livros”.
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Não o suporíamos pelo título – beligerante e imediatista, à semelhança destes dias que vivemos –, mas o novo livro do espanhol Jorge Carrión é, acima de tudo, um tratado de amor. Já representadas no anterior título publicado em Portugal também pela Quetzal, as livrarias (com alma, entenda-se) estão no centro desta narrativa fluida, por onde desabrocham histórias a cada instante de que qualquer leitor empenhado não deve tardar a apropriar-se (não é, afinal, a partilha um dos grandes predicados da leitura?).
É certo que, ao contrário do que aconteceu com “Livrarias”,Carrión detém-se com frequência na Amazon, a cadeia grossista criada por Jeff Bezos que, no seu entender, simboliza a antítese de tudo quanto uma livraria independente deveria representar.
Nesses capítulos do livro, em que impera um tom bem mais enfático do que nos restantes, o autor procura desmontar algumas das estratégias adotadas pelo gigante do retalho norte-americano, culpando-o de querer tirar partido do prestígio associado ao mundo dos livros para, na verdade, lucrar ainda mais nas restantes áreas de atuação, pouco ou nada relacionadas com a cultura.
Assente num conjunto alargado de premissas, este manifesto insta-nos, enquanto leitores, a não ficarmos a assistir, impantes, ao ruir das livrarias tradicionais, à medida que o neo império dos algoritmos vai florescendo. A estratégia passa pela eliminação de intermediários e esmagamento da concorrência que, embora pareça traduzir-se num produto barato, acaba por “sair muito caro”.
Com o Google e o Facebook, a Amazon partilha, na visão de Carrión, “a vontade imperialista de conquistar o planeta, defendendo o acesso ilimitado à informação, à comunicação e aos bens de consumo, enquanto obrigam os seus empregados a assinar contratos de confidencialidade, engendram complexas estratégias para não pagarem impostos nos países onde se radicam e constroem um estado paralelo, transversal, global, com as suas próprias regras e leis, a sua própria burocracia e hierarquia, os seus próprios polícias”.
Livro de um leitor devoto, direcionado para outros tantos,”Contra a Amazon” é ainda mais convincente pelo modo arrebatador como nos procura transmitir a importância que as livrarias, esse “templo emotivo”, desempenham no ecossistemas das cidades.