Ossos que resistiram a Pinochet e panelas sobreviventes à ditadura de choque asiática
O Festival Internacional de Marionetas do Porto- FIMP apresentou esta manhã, no Teatro Rivoli a sua 33.ª edição. Este ano será dedicado à terceira parte de um ciclo sobre ciência e política da matéria animada, a que chamaram "O mistério da Vida". O certame decorre de 7 a 16 de outubro, no Porto e Matosinhos, envolvendo oito países, 14 espetáculos, sendo equitativamente metade nacionais e metade internacionais, em 31 apresentações, distribuídas por 11 palcos.
Corpo do artigo
Além dos espetáculos de sala, haverá ainda workshops, o projeto FIMPalitos, e um documentário. Apesar do orçamento ser o mesmo houve uma opção por menos espetáculos e um equilíbrio no programa que também traz criações mais longínquas, algo possibilitado com o amainar da pandemia, explicou ao JN, Igor Gandra, diretor artístico do certame.
"Still life-nine attempts to preserve life" do Ljubljana Puppet Theater (dias 7, 8 no Rivoli) inaugura a programação de sala. O espetáculo é feito como coelhos embalsamados que foram transformados em marionetas, com uma rigorosa manipulação, detalhou Igor Gandra.
Apesar da forte componente internacional, a tradição portuguesa também estará presente no festival com "Teatro Dom Roberto" de Ricardo Ávila ", um dos mais jovens roberteiros nacionais que trabalha com o Vumteatro nos Açores" (dia 8 no Constantino Nery, dia 9 no Jardim da Cordoaria).
De regresso ao FIMP estará o espanhol Xavier Bobés que esteve na edição de 2015 e na de 2019, com uma produção para público reduzido "Corpus" (dias 8,9 Teatro Campo Alegre) . "T" é a estreia de Jordi Galí, reconhecido bailarino, que traz uma proposta com o Arrangemet Provisoire, de França (8, 9 no Teatro Campo Alegre).
"Apolo Descapotável" é a nova criação do Alma d'Arame, estrutura de teatro físico que se apresenta com um texto original de Paulo Oliveira, sobre as teorias da conspiração (8, 9, no Teatro Helena Sá e Costa).
"Não sei o que o Amanhã Trará" criação da Limite Zero, faz uma revisitação ao universo de Fernando Pessoa, com introdução da técnica de modulação 3D (dias 11 e 12, no Teatro Constantino Nery).
Mónica Guerreiro, diretora do Coliseu Porto Ageas (um dos parceiros do FIMP) detalhou que a programação escolhida para o seu espaço será "A última Batalha", da Leirena Teatro, uma produção com música ao vivo da autoria de Surma, algo que o Coliseu Porto Ageas muito preza. A produção revisita a Batalha de Aljubarrota, a 11 de outubro.
"Maiakovsky - O regresso do futuro" uma produção do Teatro de Ferro e do Teatro de Marionetas do Porto, estreada no Festival Internacional de Expressão Ibérica (FITEI), em 2021 regressa para uma apresentação única, a 12 de outubro, no Teatro Carlos Alberto.
No mesmo dia, no Campo Alegre, dá-se a estreia de "Luna Park" de A Tarumba, "um dos grandes referentes do imaginário infantil, de recortes, etc do coletivo que dirige o nosso festival congénere o FIMF", detalhou Igor Gandra. (dia 12, no Teatro Campo Alegre).
Os artistas mais desejados
A reta final do programa traz grandes nomes internacionais, a abrir "Cuckoo" do sul-coreano Jaha Koo que contracena com "panelinhas e fogos elétricos sobre o efeito das crises asiáticas de quem cresceu nos anos 90 e foi sujeitos à doutrina de choque, de onde saíram entre outras consequências o k-pop e o k-drama", disse Gandra. (13, 14 no Rivoli).
"Hic Sunt Dracones", do Theatre Continuo da Chéquia, apresenta um espetáculo em que quatro bailarinas-marionetistas trabalham no limite da transdisciplinaridade (14, no Teatro Constantino Nery) .
"Spirals", do belga Tim Oelbrandt-De Studio, é uma das criações recomendadas para a faixa etária de maiores de seis (14, 15 no Teatro Campo Alegre). O encerramento de espetáculos de sala decorre nos dias 15 e 16, com "Como convertirse en piedra", da chilena Manuela Infante, que também esteve virtualmente em edições anteriores do FITEI.
"Uma dramaturgia fragmentada, com grande dimensão visual e sonora e sobre a ideia de nos transformarmos em pedra", disse o diretor artístico. Acrescentando que "o Chile é um país mineiro onde ainda se descobrem valas comuns, do tempo da ditadura de Pinochet e onde o osso forma uma resistência pétrea. Mas também o país onde começaram as grandes revoluções feministas".
À terceira espera-se que seja de vez, o FIMP irá exibir, ao ar livre, o documentário "Na Palheta com Dom Roberto", na Estação da Trindade (dia 15). No dia 16, o Teatro de Ferro mostra o "Arquivo Zombie", onde o público é convidado a visitar as máquinas cinéticas do Teatro de Ferro.
A questão das acessibilidades também é uma das preocupações do FIMP, com um dos espetáculos em Língua Gestual Portuguesa e três dos espetáculos legendados. Cristina Planas Leitão, pela primeira vez na conferência como diretora do TMP, foi muito felicitada pelos seus congéneres, e ciente desta questão apresentou-se e descreveu-se, para invisuais, na sua apresentação.