"Baque", de Gaya de Medeiros, abre esta quinta-feira o festival internacional de dança contemporânea GUIdance, com o tema guia "Transformação dos tempos e dos corpos", assinalando, durante dez dias, os 13 anos do festival.
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"A edição mais forte, mais longa e extensa", como explicou o diretor artístico Rui Torrinha, tem a inauguração às 21.30 horas, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães e irá, pela primeira vez, diluir-se por outros espaços da cidade como o Centro Internacional de Arte José Guimarães e pelo Teatro Jordão.
Apesar de estar há muito programada, a proposta de Gaya de Medeiros, coreógrafa transexual brasileira, ganha um particular realce, dado o tumulto social das últimas semanas devido ao caso "transfake". "Baque" contempla "cinco pessoas a falar sobre identidade de género". Uma fórmula cozinhada a partir da sua plataforma de artes performativas BRABA, dedicada a pessoas trans e não binárias.
A criação parte desta premissa: "Se o meu corpo não viesse antes de mim, o que teria para contar?". Em entrevista ao JN, a coreógrafa admitiu que "os nossos corpos já estão demasiado legendados, é como se não pudéssemos interpretar outra coisa que não fosse a realidade trans. Uma pessoa trans não pode falar de amor, de medicina ou de qualquer outra coisa". Mas, nem só de disforia de género vivem as pessoas trans e essa é a base da construção de "Baque".
diferença como criação
O GUIdance segue amanhã, agora no Teatro Jordão, com "Blasons + Doesdicon", programa da companhia sediada na Madeira, e dirigida por Henrique Amoedo, Dançando Com a Diferença, que mistura um coletivo com e sem deficiência. Esta será a primeira de três apresentações, coreografada por François Chaignaud e Tânia Carvalho, pondo em evidência "as diferenças que existem nos nossos corpos", sublinhou o diretor artístico da companhia.
O registo integral da coreografia "Endless", da Dançando Com a Diferença, será também exibido em filme no dia 7, seguindo-se uma conversa entre Henrique Amoedo e Eva Ângelo.
No dia 9, haverá uma revisitação da coreografia "Beautiful people", de Rui Horta, que se voltou a instalar na Madeira para remontar a obra.
No remate da primeira semana do GUIdance, há duas estreias nacionais, no âmbito da Aerowaves, rede de coreógrafos europeus emergentes, da qual A Oficina é membro. A primeira decorre no sábado, às 18.30 horas, com "Some coreographies", do italiano Jacopo Jenna, um diálogo entre vídeo e coreografia. A esta segue-se, no mesmo dia, às 21.30 horas, "Gran bolero", do espanhol Jesús Rubio Gamo, uma revisitação de "Bolero", de Maurice Ravel, com seis bailarinos de Madrid e outros tantos de Barcelona. A encerrar o sábado gordo há "Silent disco", às 23.30 horas, uma proposta de Alfredo Martins sobre a vida noturna e a solidão.
A terceira seleção Aerowaves é revelada dia 10, "Soirée d"études", do belga Cassiel Gaube, uma coreografia "sobre o circuito house".
A segunda semana tem vários pontos importantes da programação
Quarta, dia 8
Marco da Silva Ferreira apresenta "Carcaça", uma desconstrução de uma identidade cultural coletiva comum que tem congregado vários elogios da crítica.
Sábado, dia 11
"O elefante no meio da sala", de Vânia Doutel Vaz, põe o dedo na ferida sobre as obviedades sociais que são excluídas por melindre.
Sábado, dia 11
A mítica companhia Akram Khan, do coreógrafo britânico de origem bangladechiana, apresenta em estreia nacional "Jungle book reimagined". É um dos pontos altos da programação de dança em Portugal para em 2023.