Não se sabe quem inventou a ideia de que o teletrabalho era aquele momento maravilhoso em que pessoas de pantufas comiam biscoitos sentadas no sofá com o computador no colo enquanto o trabalho flui. É uma falácia.
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Há um grande grupo de portugueses confinados em casa com os filhos, fazendo por sobreviver à plasticina entranhada nos tapetes, a bandas sonoras de índios e cowboys, a Babysharks em modo repetitivo, às Nerfs (armas com balas de borracha), brincando às professoras e aos cabeleireiros enquanto desempenham a profissão. (A profissão, esse interlúdio para espetáculos de música e dança variados.)
Trabalha-se entre gritos e bolas a baterem contra portas. Procuram-se desesperadamente bolsas para aliviar as multitarefas. E depois há os telefonemas de trabalho, esse momento em que se reza para que não seja uma chamada Zoom e que ninguém se aperceba das manias de realeza de envergar uma tiara em casa. Fazem-se chamadas de voz encerrados numa divisão, sob a tensão de que uma das pequenas vozes, com uma necessidade escatológica, se sobreponha à voz do chefe. E a fome, o tempo todo: os lanches, os almoços, os jantares e os pica-pica.
Leva-se uma semana assim.... Mas isto não é nada: a última vez foram seis meses, com aulas.
Este "Arte do dia" não é para o grupo de pais cujos filhos não veem tablet, nem telemóvel, nem televisão. Não vale a pena estar com imposturas: não é à toa que "Babyshark" foi a música mais ouvida no YouTube em 2020. Foi só o exército mundial de pais confinados com os filhos que a tocou muitas e muitas vezes - em novembro ascendeu a 7 mil milhões de vezes. Nem todos os pais têm o luxo de viver no campo e a oportunidade de ver a Natureza crescer, ou de possuir espaço e meteorologia favoráveis a que as crianças brinquem livremente no exterior.
Hoje é o Dia Europeu da Proteção de Dados. Quando a pandemia terminar, conhecer-se-á a fatura desta utilização intensiva de Zooms, WhatssAps, Meets e afins.
Hoje é também o dia em que se assinalam os dez anos do iPad, essa maravilhosa invenção de Steve Jobs capaz de acalmar crianças por períodos breves, entre outras funções. Assinala-se ainda a morte da escritora sueca Astrid Lindgren, autora de "Pipi das meias altas", e de Karel Svoboda, compositor checo, autor da banda sonora de "A abelha Maia", um saudosismo para crianças dos anos 1980. Neste espírito, e como paliativo para as horas de trabalho, fizemos uma pequena seleção para os mais novos.
Se o seu filho sabe escrever, recorra à aplicação YouTube Kids, uma garantia de que vê programas com conteúdos relativamente apropriados, libertando os pais para o trabalho. No YouTube Kids e nos conteúdos infanto-juvenis em geral, prevalecem os autores brasileiros
A RTP2 voltou a emitir "Era uma vez a vida", uma série de animação francesa que conta a história do corpo humano às crianças. O programa foi produzido em França, em 1987, e dirigido por Albert Barillé. Atualmente é emitido dobrado em português. Passados 34 anos, continua a ser dos trabalhos cientificamente mais cativantes para os mais novos:
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A "Porquinha Peppa" é dos desenhos animados mais interessantes para crianças em idade pré-escolar. A criação britânica de Astley Baker Davies, de 2004, não tem exatamente uma preocupação em ensinar, mas as personagens têm todas uma conduta de grande civismo, característica fundamental para a vida em sociedade. A "Porquinha Peppa" é emitida no Canal Panda e no Nickelodeon Jr. Há também várias horas disponíveis online.
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No canal BabyFirst e no YouTube encontra-se um programa de arte para os mais novos com o Pequeno Vinnie, que ensina curiosidades sobre museus e artistas como Renoir, Degas ou DaVinci.
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"Peg e o gato", série emitida pela RTP2, é uma animação americana com múltiplos prémios. Peg e o amigo felino resolvem vários problemas quotidianos com fórmulas matemáticas:
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"Dora exploradora", criado pelos Nickelodeon Animation Studios, existe desde 1999. O desenho tem caráter educativo e apresenta as aventuras de Dora e do amigo Botas, um macaco. Ambos falam com o telespectador em inglês e em português. Também a série "Biografias", do "Zig Zag", é uma interessante rubrica para que os mais novos aprendam sobre personalidades portuguesas.
Maria Vasconcelos lançou uma série de músicas sobre a História de Portugal que podem ser boas mnemónicas para as crianças mais velhas:
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Com um pouco de perspetiva passarão os dias. Temos família, casa, saúde - e beijos e abraços enquanto trabalhamos. Quanto tempo aguentaremos isto? O tempo que for preciso.