Programações online surpreenderam diretores artísticos pela adesão de público neste segundo confinamento. Projetos terão continuidade pós-covid.
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Nunca antes o online tinha sido tão utilizado nas artes performativas como durante esta era pandémica. Mas como estão os públicos a responder a esta migração e a estes novos objetos artísticos?
No Teatro Nacional D. Maria II (TNDM II) os números surpreenderam. Neste confinamento que começou em janeiro, "a terceira sala do TNDM II teve 40 mil acessos", contou ao JN o diretor artístico da instituição, Tiago Rodrigues.
A adesão foi tão positiva que, a partir de setembro, o TNDM II terá um projeto exclusivamente online. Além de um programa dedicado ao público infantojuvenil, a instituição apostou também nos vídeos "Corrente de transmissão", da jornalista Maria João Guardão, onde se mostram os bastidores do teatro.
Para lá destes programas gratuitos, a instituição vendeu 5000 bilhetes online para espetáculos pagos, com o preço simbólico de 3 euros. Um valor acordado entre vários teatros para que fossem todos aproximados.
O espetáculo recordista foi "Última hora", com encenação de Gonçalo Amorim, que vendeu quase 2500 bilhetes, referiu Tiago Rodrigues.
Se no primeiro confinamento disponibilizaram o espólio videográfico que existia no TNDM II, este segundo confinamento teve conteúdos pensados e inclusivos . "Ainda não temos indicadores precisos de onde estão a ser vistos os espetáculos, mas vamos tendo feedback da diáspora portuguesa, do Brasil a Moçambique". Um alcance geográfico muito maior do que "a assembleia presencial no Rossio".
Um novo alcance
A abolição das distâncias é um dos grandes atrativos também para o Teatro Municipal do Porto (TMP), que ganhou público no Brasil, Estados Unidos e em dezenas de outros países. "Temos um novo alcance a nível geográfico, mas ainda não conseguimos perceber como chegaram até nós, porque não estamos a fazer divulgação nesse sentido", conta Tiago Guedes, diretor artístico.
Para esta temporada, o TMP lançou um programa online já com conteúdos exclusivos para este formato, como foi o caso de "PAR(S)", que une um artista visual e um performativo; ou estreias como "F..", da Estrutura. Mas as grandes surpresas foram as Quintas de Leitura, uma iniciativa com grande longevidade cuja encarnação online "tem corrido muito bem"; e o primeiro concerto Understage, na semana passada, com os Conferência Inferno, que teve 200 pessoas - "com as lotações [físicas] limitadas não poderiam estar no subpalco mais de 50 pessoas", sublinha Tiago Guedes.
O mesmo fenómeno aconteceu no Teatro Nacional de São João (TNSJ) que teve 1014 pessoas inscritas a assistir à leitura online de "Barca do Inferno", disse ao JN Pedro Sobrado, presidente do Conselho de Administração. "Nada substitui o presencial, a copresença e a convivialidade, mas tem sido uma oportunidade de alargar a plateia".
O TNSJ tem públicos maioritariamente no Porto e em Lisboa, mas também em todas as capitais de distrito. Para os quatro espetáculos que emitiram neste confinamento foram vendidos 1500 bilhetes. O TNSJ é a instituição com os bilhetes mais baratos, 2 euros. Além disso, a instituição migrou com êxito o Centro Educativo para as plataformas digitais.
Esta semana, para terminar as comemorações do centenário do TNSJ, haverá um ambicioso programa que culmina com o encenador multipremiado Gábor Tompa a revisitar o clássico "À espera de Godot" de Samuel Beckett, numa transmissão em tempo real.
Público
40 mil acessos foi o número obtido pelo Teatro Nacional D. Maria II durante este confinamento. Os acessos ultrapassaram todas as expectativas que o TNDM II tinha para os palcos digitais. De tal forma que pretendem a partir de setembro ter no online a "terceira sala".