"Granito" é o regresso da companhia Palmilha Dentada à sua proposta de café teatro. Peça está em cena no Lugar, no Porto, até ao final do mês.
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O ponto de partida é o granito, mineral extraído das pedreiras de Mondim de Basto, que também fornece o elenco do seu grupo de teatro amador para contracenar, através do vídeo, com a dupla Ivo Bastos e Rodrigo Santos, da Palmilha Dentada.
O ponto de partida é o granito, mas podia ser a argila ou o basalto, porque o material é só pretexto para uma revista à atualidade - do Tik Tok ao teletrabalho, da crise da habitação à guerra, passando pela habitual paródia aos próprios mecanismos do espetáculo.
É o regresso da companhia aos seus primórdios, quando fazia rir as pedras, nos bares do Grande Porto, com a sua proposta de café teatro, assumidamente datada, como é "Granito", despejando ironia sobre os temas candentes dos noticiários.
É também o reagrupamento do trio original da Palmilha - Ricardo Alves escreve, e gosta de alternar registos a cada espetáculo; Ivo Bastos e Rodrigo Santos (regressado da sua aventura na companhia "quase" residente do Teatro São João) interpretam.
E o mais gratificante de "Granito", que se apresenta até dia 30 no Lugar (Travessa das Águas, Porto), é mesmo a química entre os dois atores, experientes comparsas que sabem extrair as pepitas mais valiosas um do outro. São acompanhados em diferido pelos atores do Mondinense, que surgem projetados em extravagantes coreografias na pedreira, servindo como intermédios que separam as três cenas do espetáculo.
Se o granito é pouco importante, não deixa de provocar a mais hilariante das situações: os complexos cálculos elaborados pela dupla Timóteo e Nando, matarruanos de Trás-os-Montes. A questão dos passos que cada um dá ao deslocar um pedregulho, o esforço que cada um faz ou não faz, e a forma como a situação desemboca num comentário ao teletrabalho e a medidas recentes do Governo, é Palmilha Dentada vintage.
Nem sempre os chistes atingem os mesmos píncaros, mas "Granito" não esboroa porque se move habilmente dentro dos seus propósitos: paródia sem moralismo ou "mensagem" (isso cabe ao espectador fabricar ou não) e sempre uma irresistível mofa ao jogo teatral, como quando uma das personagens invetiva o técnico de luz pelas suas opções dramatúrgicas.